Mário Soares, homem providencial nos seus tempos de salvador de parte da democracia nacional e, por suscitação de Salgado Zenha – assim nos garantem os bem informados, que evidentemente sabem mais disso que eu - com bravura cavalheiresca enfrentou então o celebrado Cunhal na fonte luminosa, não cessa de nos iluminar com proveito mediante a sua fala intensamente apelativa pelo menos para alguns.
Agora, segundo nos contam praticamente todos os “órgãos de informação”, como usa dizer-se com chiste, que manifestam pelo “velho leão” um carinho inteiramente apropriado, veio dar uns prudentes conselhos ao actual ocupante de S.Bento, o sr. Presidente do Conselho de ministros engº José Sócrates.
E disse o renomado combatente republicano laico, e cito de memória, que o governo tinha de falar nos casos, falar sem desfalecimentos, explicando aos cidadãos o porquê das excelsas razões para a atribuição das verbazitas a um tal BPN, além de outras verbazitas que tais, para as acções magnificentes com que vai governando esta pátria multissecular e, creio eu, também já multidisplinar por causa dos tempos e dos modos...
Falar, explicar, falar com imaginação contida, digamos, mas presuntiva eficácia.
E eu, perante esta luzente ideia soarista, de repente lembro-me de um trechozinho dum livro de André Coyné (“Sobre Portugal nestes tempos do fim”), um dos destacados analistas políticos franceses, que nos disse dele: “ Já então Soares era o homem para quem governar seria falar, e ainda falar, sempre falar e, falando, dizer seja o que for, já que de toda a maneira o público é incapaz de reter tudo e trata-se antes de mais de o embalar com palavras e de tornar esse embalar não só habitual como indispensável”.
Falar para entreter as massas, diria eventualmente um leitor menos benevolente ou mais despachado.
E a seguir conta-nos esta pequena estória que nunca que eu saiba foi desmentida (e Coyné não era/é um qualquer, mas sim um prestigiado escritor e professor catedrático internacional, um par dos melhores publicistas universitários e estudiosos gauleses): “Era nos primeiros dias de Março de 1975 e o secretário-geral do PS acabava de gravar uma declaração para a Televisão Francesa. Enquanto os técnicos desligavam e arrumavam a aparelhagem, aproximou-se de nós e, sem preâmbulo, desfechou: 'Agora estamos entre nós, agora sim podemos falar' – e pôs-se imediatamente a contradizer aquilo que acabara de confiar ao microfone para o público”.
Com tão prudente/s conselheiro/s não me admiro nada que o sr. Engº Sócrates fique, mais a sua governamental retórica, entre nós já não digo várias dezenas de anos como o seu correlegionário de ideologia Chávez mas, pelo menos, mais uma década prodigiosa!
A pátria dele e do Dr. Soares merecem.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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4 comentários:
O Soares há muito tempo que percebeu que o actual governo está em dificuldades e que Sócrates arrisca-se a perder a maioria absoluta, o que tornará o país praticamente ingovernável. Por isso, tem uma "agenda escondida", que consiste em "dar conselhos" ao PS, de forma a manter os "socialistas" no poder...
Esse é o fim último dos seus artigos de opinião.
Uma vez que acompanhei a minha namorada numa visita de estudos ao edifício da Assembleia da Republica, estive a um par de metros do dr. Soares. Pude observá-lo no salão de entrada, com atenção a falar com deputados e pareceu-me um cegarrega como os vendedores de feira. Acho que a História vai ser dura para ele independente de ter oposto ao Cunhal que esse então era uma peste pegada.
Mário Janeira
O homem quer fazer crer que basta ao Sócrates explicar os actos governativos e tudo fica bem.
Dele outra coisa não se pode esperar e por isso muitos lhe têm chamado parlapatão ou coisas ainda piores. Como é que depois de ter governado como governou este alegado vaidoso pode vir querer tapar o sol com conselhos é que eu não percebo, ou antes percebo é a desvergonha que continua.
Luís Meirim
Se o Soares é português, eu quero ser espanhol!
PIM!!!
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