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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Freeport

Não gosto do Engº Sócrates.
Não por causa da sua cara, do seu fato, dos seus maneirismos, das suas habilidades, ou porque me tenha alguma vez dado uma canelada.
O homem acha que ser socialista é motivo de orgulho e isso define um grau de imbecilidade com o qual não consigo simpatizar, por muito que me esforce.
Já com o peneireiro-de-cabeça-verde, com a luzerna-da-esteva ou o com o sardão-de-bellini, a minha alma enternece-se.
Face a isto, qualquer um diria que no caso Freeport, aqui o Lidador estaria firmemente na trincheira anti-Sócrates e na defesa intransigente dos elevados valores de que agora não me recordo.

Enganam-se!

Não sei se a meia dúzia de hectares que o Freeport foi comer à Reserva, eram o habitat da lula- de-bico-amarelo ou do gambozino-da-estepe, mas sei que a tal Reserva tem milhares de hectares e que a lula, se se sente incomodada com a Zara e a Benetton, tem muito espaço para fazer o que as lulas costumam fazer, seja lá o que for, e esse é o lado para o qual eu durmo melhor.

Ah, mas o Sócrates, ou a família dele, ou os amigos dele, terão embolsado milhões de libras, e são uns corruptos, e patati patatá.

Lamento informar-vos que isso não me aquece nem arrefece e a única sensação que me provoca é uma certa inveja por não me ter abotoado eu.

Chocam-vos estas minhas confissões?
Pois não deviam.
A situação para mim é clara como a água: havia uns milhares de hectares de erva, lodo, lojas de pneus, lixo avulso e natureza (a natureza, como se sabe não é só beleza, inclui também bosta de vaca, cócós vários, guano, etc).
Uns ingleses com olho para o negócio acharam que havia ali uma boa oportunidade de ganhar dinheiro e, por arrastamento, dar dinheiro a ganhar a outros.
O edifício era grande e precisava de um niquinho do quintal da galinhola-de-pé-chato, mas a burocracia e o instituto fundamentalista do ambiente berravam "blasfémia" e faziam como o cão do hortelão: não comiam as couves nem as deixavam comer.
Fizeram pois os ingleses aquilo que eu, à minha escala, faço quando quero que me despachem a papelada a tempo e horas, ou que me troquem os pneus do carro antes das 10.
E com a coisa devidamente oleada, tudo se fez, com evidentes vantagens para o país. Uns milhões de libras voaram de bolsos ingleses e aterraram no bolso de várias empresas portuguesas, que pagaram a empregados portugueses, que foram jantar fora em restaurantes portugueses, e por aí adiante.
Outros milhões de libras terão entrado nos bolsos do Sócrates, ou da família dele, ou dos amigos.
Tudo dinheiro inglês que veio de fora, que aumentou a reserva de divisas, que serviu para comprar coisas, etc.

Não é ético, não é moral, dirão alguns.
Também acho que não, sobretudo porque não fui eu que empochei, mas tenho de reconhecer que tirando o pintassilgo-pilriteiro e o tremoço-selvagem, ninguém pode realmente dizer que está pior.
Muito menos o Sócrates.







21 comentários:

Paulo Porto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulo Porto disse...

Caro Lidador

"Lamento informar-vos que isso não me aquece nem arrefece [a corrupção] e a única sensação que me provoca é uma certa inveja por não me ter abotoado eu."

Já não é mau o Lidador lamentar informar. Pelo menos sinto-me bem acompanhado no 'lamentar', só que, no meu caso, é lamentar ler.

Nós por aqui batemo-nos contra os Chavez e os zé-eduardos-dos-santos desta vida. O Sócrates é apenas simulacro de um deles, embora nun sítio que seria suposto eles não existirem, a Europa.

Há necessariamente que separar duas coisas: uma coisa é acharmos que é ridiculo alguns hectares de terreno não poderem sair de uma zona de reserva; outra, bem distinta, é parecer-nos bem que os tais hectares saiam a troco de muitos milhares de euros que vão parar às mãos de um ministro.

Como eu disse por aqui em tempos, não é só pelas cores da bandeira que Portugal se assemelha a um país africano.

Unknown disse...

O P Porto ficou chocado com a minha lamentável ética.

POr um lado compreendo...por outro lado, vamos lá ser mais especiosos:

1º- O que nos compara com países africanos não é o facto de o cabrito comer onde está amarrado. Isso é tão verdade na Bechuanalândia como no Vaticano, Meca, Lhasa, ou Oslo. Nem é o facto de eu achar isso normal. É normal!
O que nos compara é o facto de o sistema de justiça não actuar em tempo e de forma adequada.

2º-Em minha ( sincera) opinião, cada ser humano deve procurar fazer o melhor para si e para os seus em todas as circunstâncias e na verdade é isso mesmo que fazemos, desde há milénios e por isso estamos aqui no topo da cadeia alimentar.
Aproveitar a relva que está à mão, não é pouco ético, é inteligente.
Se isso acarreta desvantagens para outros (embora neste caso do Freeport, não esteja a ver para quem, para mim não foi de certeza) o que se devem é organizar sistemas que levem em conta a natureza humana e que inibam certas acções.

Porque PP, desiluda-se: não há anjos. Todos somos compráveis.
Na verdade todos nos vendemos para adquirir algo que prezamos.
Vendemos por exemplo a nossa capacidade de trabalho em troca de dinheiro. Vendemos o nosso tempo em troca de dinheiro ou reconhecimento.
Vendemos a nossa consciência, por dinheiro ou por medo.
Há sempre um preço e não há gente incorruptível. Há é pessoas cujo preço é maior, ou que não avaliaram bem o mercado.

Aqui há uns anos os juizes do Rio de Janeiro que julgavam casos de droga ligados às favelas, entrava no carro e viam no assento um envelope com dinheiro e umas fotos de filhos,pais, etc.

A msg era clara!
Cediam? Não sei...sei apenas que as autoridades não tinham um bom registo de eficácia na protecção dos juizes e das suas famílias.
Alguns eram incorruptíveis ai dinheiro? Eram...mas poucos ao medo.
Ainda há mais tempo, no tempo da guerra fria, um general da NATO foi apanhado num desvio sexual e filmado pelo KGB.
Tornou-se informador, apenas pela coacção psicológica, pela ameaça de divulgação das imagens.

Quanto ao Sócrates, não o defendo, não gosto que tenha aproveitado para encher os bolsos, mas compreendo que o tenha feito.
Na sua cabeça, se de facto se abarbatou, terá estado a equação simples que no post defini:
Benefícios para mim, benefícios para o país, prejuizos para ninguém, que se foda o peneireiro da-pata-amarela, que tem mais uns milhares de hectares para comer, fornicar a defecar.

Anónimo disse...

O que está mal é a falta de vergonha eventual. O salve-se quem puder. Que está a colocar-nos bem a meio, com tendencia a descer, na cadeia alimentar.
Sim, concordo com o Lidador que o que é preciso é já não digo criarem-se, porque elas existem, mas aplicarem-se as Leis impedindo que arrivistas se sirvam do laxismo para "progredirem".
Dito isto, há que referir: na tomada de posse, o empossado toma uma responsabilidade, garantida pela sua honra: ter uma atitude lisa para com a pátria e a população que a integra. Não é um simples "parvenu", a quem toda a golpada é permitida. Por outras palavras, e sem que me esteja a referir ao "premier" e ao caso em apreço: um magistrado de topo não pode ter a moral de um "Bel Ami" (a tristemente célebre personagem de Maupassant) nem a ética de um Al Capone ou dum Judas Iskariotes.
Encarar-se a existencia em comunidade contemporânea como estando ao nível de uma comunidade Cro-Magnon, onde o que contava era a sobrevivência pura e simples por extenso, é considerar-se o "struggle for life" coisa primária. Ora, o "struggle for life" inclui, precisamente, as leis e o sistema de co-relacionamento.
Caso contrário, estamos a entrar no mundo proposto pelos ben Ladens de ocasião.
Não é a existencia mais ou menos salubre dos passarocos que me preocupa, é a das pessoas. Desta sociedade onde, com ou sem gosto, vivemos.
Tal como ao escrever um livro de ficção científica o autor, no fundo, está é a falar da sociedade e das pessoas aqui e agora (ainda que encene uma estorieta de extra-terrestres)o caso Freeport não epigrafa um "affaire" de espertalhões operosos: define sim um perfil de uma pátria e sua classse dirigente, a quem os sucessivos e inúmeros "casos freeports" estão a mandar para os abismos.
E isto é que é mester, se não queremos desaparecer realmente, considerar.
E deter, antes que seja tarde, os seus resultados e princípios.
...Além disso, os arrisvistas operosos têm outras soluções: entre outras, buscarem verbas no "quem quere ser milionário", por exemplo...
E esta última frase é, como aliás encaro o post do caro Lidador, sim senhor uma forte ironia!

Anónimo disse...

E para finalizar, corroborando com um abraço sincero ao Lidador: sim, somos todos compráveis. Em hipótese. Mas nem todos se vendem. A História, mesmo a recente, está cheia desses exemplos.
O íten não está em sermos passíveis de compra. Está em que alguns, mais do que se julga, escolhem não se vender.
Por tolice, masoquismo, mania das purezas? Não sei, nem curo de saber disso.
Mas é por eles, um poucochinho, que ainda andamos de pé.
E deixem-me que cite uma frase: "Não basta assumir, como seres humanos, a posição vertical. Importa que nos firmemos nela" - Miguel de Unamuno.

Anónimo disse...

O problema é que não deviam ser necessários subornos, bastava competência...

Bob

Paulo Porto disse...

Caro Tribunus

Tá bem. Então se isso é "concordar" com o Lidador, eu concordo consigo e passei a "concordar" com o Lidador sobre este caso.

Paulo Porto disse...

O comentário acima era para o JL, como se entente. Mas fica tudo em casa.

Unknown disse...

J.Lencastre, eu sou bastante mais cínico do que você relativamente a mim e aos meus semelhantes.
Sim, é verdade que uma lenda garanta que o mundo não acaba porque há 12 justos algures por aí e que Deus não tocará a campainha do Apocalipse por causa deles.
Mas eu não sou um desses justos, e tampouco conheço algum deles.
Não ponho as mãos no fogo por ninguém, e a minha mão direita não o faz pela mão esquerda.

Claro que todos nos podemos reclamar incorruptíveis, e alçarmos-nos de toga e ao som de harpa, nas mais gasosas regiões celestiais.
Mas o gajo que nunca mijou num lavatório que dê um passo em frente.

Eu sei que não sou incorruptível. POsso ter um preço alto, mas de modo nenhum infinito.

E sei que o cabrito como sempre onde está amarrado.
Todos os sobreviventes o fazem e nós somos o produto darwinista de gerações de sobreviventes.
Os nossos antepassados mataram, roubaram, subverteram, rastejaram e lutaram para sobreviver e ganhar vantagens.
E nós estamos aqui por causa disso, carregados com os seus genes.
E se formos sapiens saudáveis, faremos o que for preciso para não suicidarmos a nossa linhagem.

Sebe, eu bebo bom vinho e sou um garfo exigente. Gastronomicamente o meu preço é alto.
Mas já dei por mim, em circunstâncias limite, a comer ratos e a beber água com bosta de vaca.

No lugar do Socrates aceitaria uns milhões de libras para dar uma mãozinha no negócio?
Gostaria de pensar que não, mas sinceramente não sei.
Já fui capaz de dizer não a cunhas de peso, mas tb já cedi a pedidos de familiares e amigos.

Anónimo disse...

"O homem é perecível. Pode ser. Mas pereçamos resistindo e se o que nos está reservado é o vazio e o nada, façamos com que isso seja uma injustiça". - Étiene de Senancour "Reflexões pessoais"

"O cinismo é o recurso último dos que sofreram muito. Mas não nos inquietemos com eles: a experiencia diz-me que, em última análise, um cínico é um sensível decente que só espera algo de grave para se portar como um homem de bem. Os que afirmam o seu cinismo, no fundo, apenas mostram que serão honestos se a ocasião se apresentar. Dos outros, os dissimulados, é que temos verdadeiras razões para temer". - W.Churchil, "Memórias de um soldado errante".
Abraço domingueiro. E quando acaso nos encontrarmos vai ter de mandar vir um "Monte do Rei" de reserva: é que o meu preço gastronómico, então, é altíssimo!
Mas se tiver de beber um Riachos, por falta de pasta, também não me esquivo.

Anónimo disse...

E só dizer ainda, como costuma suceder-me (lembro-me sempre de algo, rs): se acaso S. recebeu uns milhares não foi por sobrevivência dos filhos ou de alguém amado (aí até se compreendia): foi, se acaso o foi (o que não está provado) por avidez e baixeza de arrivista.
E veja que, afinal, não "defendeu" nada: está a cair-lhe o céu sobre a cabeça.
Se ele fosse verdadeiramente defensor dele mesmo como "homo sapiens", faria doutra forma: pouparia, até vir o tempo das vacas gordas.E aí jogava na bolsa e, se não ganhasse uns milhares, andaria como eu: não muito abonado mas durmo tranquilo todas as noites (até porque agora até sei que nos vão defender melhor dos fundamentalistas...).
Ele defendeu mal a sua descendencia.(Teria defendido).
Fazer isso implica sempre ser-se eficaz. Até os Cro-Magnos o sabiam...
Abrq. do JL

Anónimo disse...

Se acaso o fez, diz o jlencastre. E eu digo o mesmo. Mas se acaso o fez, foi um aproveitador rasca, pois vai ficar para a História como um miserável, venal e ainda por cima estúpido.
E como nesse caso irá parar à prisão e caçam-lhe os bens, é pior que isso é um vígaro de terceira ordem de quem nos devemos rir.
E isto só não será assim porque segundo creio o homem não terá feito nada.

LC

Diogo disse...

«E com a coisa devidamente oleada, tudo se fez, com evidentes vantagens para o país. Uns milhões de libras voaram de bolsos ingleses e aterraram no bolso de várias empresas portuguesas, que pagaram a empregados portugueses, que foram jantar fora em restaurantes portugueses, e por aí adiante. Outros milhões de libras terão entrado nos bolsos do Sócrates, ou da família dele, ou dos amigos»


Sempre um desastre em aritmética, este Lidador. Porque os milhões que foram para os bolsos de Sócrates saíram dos bolsos do investidor, ou das empresas que lá alugaram um espaço, ou dos bolsos dos empregados que lá trabalham, ou do pessoal que lá vai comprar roupa ou do Estado Português que terá vendido o terreno mais barato. Ou de todos eles juntos.

Anónimo disse...

Venho seguindo com alguma atenção o Fiel Inimigo, assim como outros que me agradam.
Creio que este assunto, a que Lidador deu alguma enfase, tem de se encarar dum ponto de vista das leis equecendo por agora a filosofia de corruptível/não corruptível.
E a lei é muito clara: os altos funcionários, sejam eleitos ou não, estão obrigados ao seu cumprimento estrito.
Aqui não entra moral ou não moral, ética ou não ética. É uma caso de jure e nada mais.
Nesta conformidade, o indivíduo em apreço e que motivou este post e comentários, sendo culpado será cominado de acordo com o preceituado legal, pois era de sua obrigatoriedade agir conforme o que as leis a que se obrigou pautuam.
O caso do articulista é diferente, é um mero particular, já portanto faz parte de uma opus jure diversa. Se agir mal, há leis para isso. Se daí não advier dolo, é apenas matéria de opção ética ou moral de facto.
Nestes casos, raciocinar segundo o binómio mal-bem é perder tempo e, em última análise, fazer sem se querer o jogo de quem deseja branquear a aplicação do que está legislado superiormente.
Como Emery Reeves disse numa aula em Coimbra, "O império da Lei é o mais claro de todos os impérios. E o menos constrangedor, porque parte de preceitos claros e adequados".

Mário Reis Vilaça, A.D.

Anónimo disse...

NOS EUA UMA DAS FRASES EM QUE AL CAPONE SE BASEAVA ERA QUE ESTAVA A DAR AOS CIDADÃOS O QUE ELES QUERIAM E TAMBÉM CRIAVA RIQUEZA.

ERA A JUSTIFICAÇÃO DUM CRÁPULA.

Simplex

Unknown disse...

JLencastre, há boas citações sobre o cinismo que dão para o lado que se quiser.
Até para análises psicológicas. Mas eu gosto de pensar que o meu cinismo é racional porque entendo, sinceramente, que por debaixo do verniz civilizacional, somos todos nós velhos macacos, movidos muitas das vezes pelas mesmas macacais razões que os nossos primos primatas.
Uns têm esse verniz mais grosso duro, outros mais estaladiço.

Mas quando a natureza vem ao de cima, o sapiens que não se importa de comer o rim do semelhante sobrevive, e o que tem nojo morre de fome.
E assim, porque nós somos os descendentes desses sapiens dispostos a tudo.
Os outros morrerem de fome e terão tido poucas oportundidades de procriar.

Caro Vilaça, tem razão. Existe justiça e existe estado, justamente porque é necessário evitar que a busca dos interesses individuais ultrapasse os interesses dos outros, para lá de um certo limite.
os bons sistemas levam em conta aquilo que de facto somos e não aquilo que cada um acha que devíamos ser.

Simplex, meu caro, Al Capone ganhou. A Lei Seca era uma estupidez, Capone entendeu a natureza humana e sabia que podia ganhar com estupidez de leis inanes.
Acabou mal, mas a Lei Seca foi abolida.
Sistemas estúpidos ou inaplicáveis produzem aberrações.
Chamem-se elas Capone, Estaline, ou Sócrates ( se for o caso).

Penso é que é um erro condenar a água por jorrar, se lhe abrimos passagem.

Anónimo disse...

A sobrevivencia estrita, caro Lidador, não é o único critério fundacional.
Há vários tipos de sobrevivencia, creio que O Lidador aponta apenas para a primeira.(Não estava nenhuma toma de rim em causa. Era, seria, apenas massaroca...).
Como ficou patente no comentário do Vilaça, as leis também defendem a sobrevivencia.
Ademais, claro que todos temos uma ancestralidade. Mas uma ancestralidade global, não deve portanto ficar-se pelo troglodita. Vá mais fundo. Vá até ao ancestro reptiliano. E será que por termos um ancestro desse cariz não podemos deixar de ter o comportamental dum lagarto? A isso se chama evolução.
Tivémos ancestros canibais? Tudo bem, foram-no no seu tempo e lugar. Mas isso não implica que o sejamos agora.
Temos impulsos assassinos? Claro (eu já tive, como V. sabe, impulsos para cortar o Mancha em oitenta bocados). E é por isso que o faço? (Aliás nem teria vantagem, porquanto limpa-se um Mancha aparecem logo 32).
E não falo em bloqueios interiores, nem recalcamentos, nem em frustração, falo no que Freud, se quiser, ou Gareth Thomas chamava "o rico fundo da socialização livre".
E não é por V., por exemplo, ter (por estima? por afecto? etc) "cedido" a uma que outra recomendação que isso o exautora.
E a finalizar esta minha observação: há coisas porque vale a pena morrer.
Sabiam-no, por exemplo, os resistentes contra o nazismo e o fascismo vermelho, cujo horizonte era muitas vezes esse.Sabe-no agora os que lutam contra o islamofascismo.
Morrer por algo que salva ou liberta pode ser a mais bela sobrevivencia.
E neste caso, como noutros afins, não é uma questão de a água jorrar, isso é uma falsa analogia, desculpe: é(será/seria) APENAS o caso de um alto magistrado que meteu a mão na massa. Simplesmente.
Não há aqui aspectos civilizacionais, nem de espécie. É apenas a simples e boa vigarice de um que por dispor de um transitório poder pensava que podia fazer o que queria.
(Mas voto em que estará inocente, pelo menos até prova em contrário).
Não são precisas filosofias, nem mais nada: vigarice, venalidade.
E o ressalto aí a vir. Se vier...
E já agora: a Lei Seca não foi abolida por acção de Capone.
A Lei Seca foi uma lei pateta, mas Capone foi pior: foi um assassino que se aproveitou dela. Se ele tivesse vergonha fazia como um homem de bem: manifestando-se contra ela.
Era o que faltava! Ele até disse em tribunal uma vez com descaramento: esta lei é fixe, enche os bolsos a quem a sabe aproveitar (ele, os chefes de polícia a quem pagava, etc).
É o mundo dos arrivistas. Arranjam mil justificações para cobrir uma simples coisa: o empocha aqui.
E por último: não é uma lei estúpida escrever-se em código que um premier não pode ser um corrupto.
É algo de normal, essa lei. E muito boa, convenhamos.
E que deve aplicar-se, senão era como no tempo do staff hitleriano, em que o fuhrer disse um dia "Os alter (velhos partidários) têm direito a privilégios: esforçaram-se, portanto é justo". Pois não...!

Anónimo disse...

Não quero ser maçador mas entendo que Lencastre tem razão. O homem civilizado provém do símio ou do cavernícola, mas não é necessário ir-se a esses detalhes que acho grandiloquentes.
O ser descendente de um antropóide obcecado pela sobrevivencia não dá a ninguém o direito a agir discricionariamente em sociedades de Direito.
E foi precisamente para dar norma a esse passado de escaramuças que se instituiu o Direito.
Precisamente porque não somos anjos é que existem leis pelas quais é preciso pautarmo-nos.
A lei da selva não é um critério aceitável. A compreensão da selvajaria não é uma atenuante fáctica.

Mário Vilaça

Unknown disse...

J Lencastre, eu não alinho em éticas altruístas.
Nesse aspecto a minha referência é Ayn Rand.

Acho que somos e devemos ser egoístas. No sentido em que devemos, pela lei natural, defender aquilo a que damos mais valor.É isso que faz de nós homens e mulheres. Escolhemos aquilo que valorizamos.

Há coisas pelas quais vale a pena morrer?
Tem razão, mas elas inscrevem-se sempre numa ética egoísta.
Se um pai dá a vida por um filho, é porque para si essa vida vale mais que a sua.
Se uma Teresa de Calcutá usa a sua vida para ajudar outros é porque dá mais valor a isso do que a outra coisa.

Há momentos, na vida social, em que arriscar a vida pode ser a melhor forma de alargar as probabilidades de a conservar. Para nós e para os nossos.
Se um exército inimigo nos ataca, a atitude mais egoísta, aquela que mais provavelmente salvaguarda aquilo que valorizamos, pode ser juntar forças com outros para nos protegermos ou protegermos os nossos.

O principio básico da minha ética é o de que cada indivíduo é um fim em si mesmo e não o meio para que outros prossigam os seus fins.
A sociedade é só um meio através do qual os indivíduos podem coexistir pacifica e voluntariamente. E que o propósito de um estado é apenas a protecção dos direitos individuais, o mais importante dos quais é o direito de cada um à sua vida.

Na verdade as éticas "altruístas" estão na base dos colectivismos.

Enfim, o assunto está a tornar-se esotérico, o Benfica vem aí, o Louçã fala de láparos e saca do baú a retórica de há 200 anos, e o que eu queria dizer é que o Sócrates terá (?) aproveitado uma oportunidade que o sistema que criámos lhe colocou à frente.
O verniz terá estalado, mas eu juro que até à minha avó furtei grossas fatias de uma marmelada maravilhosa que ela fazia e metia numas malgas, com papel vegetal por cima.
Durante semanas a fio assaltei aquelas malgas, atacando a marmelada do fundo e deixando a película, convencido que me escapava.

Alambazei-me e acabei por levar umas nalgadas.
Mas se nem a uns nacos de marmelada consegui resistir, eu que andava na catequese e que sabia o catecismo todo, como posso esperar que uma pessoa normal resista a uns milhões a pavonear-se à sua frente?

Anónimo disse...

Mas o senhor em causa é que se inclina para os colectivismos!
Ele é mais responsável que eu ou o Lidador pelo Sistema!
Não fômos nós que o criámos, foi uma classe política - de que ele faz parte - que o criou para daí tirar dividendos.
Então, como saudável egoista que sou (como a Ayn Rand), quero que o nosso homem pague o pato e largue as lecas.(Se é que as apanhou).
Precisamente porque quero sobreviver.
Se fôsse só marmelada...até era doce.
Mas o que eles têm feito é dizer que a coisa é muito normal enquanto nos lixam o quotidiano.
Os colectivistas são eles!
O Chavez faz por lá o mesmo.
E um gajo sentado a ver? Os burros somos nós?
Não, como Cro-Magnon que quer sair por cima vou-lhe comer o rim. (Ou seja, vou fazer forcinha para que a Lei nos dê o rim dele).
Isto não é cair no esoterismo, caro Lidador, é apenas a minha individualidade a dizer que me rebelo, usando a Lei, contra estes "colectivistas".
Abraço saudavelmente egoísta!Altruísta, eu? Ná...!

Anónimo disse...

Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. O engenheiro tem andado sempre a dizer que é muito certinho e bom rapaz.
Bom governante, etc.
Pode-se estranhar que a malta espera que ele junte a bota com a perdigota?
Então estivesse calado e não andasse sempre a armar em bom.
E se deu a palmada então que a desse bem dada.
Pusesse os olhos nos PPNs que nos fez pagar feitos tansos.
RVA