Cada civilização tende a organizar-se em torno de um país, cujo poder faz dele o Estado-Núcleo, escrevia Samuel Huntington no seu “Choque das Civilizações”.
Segundo o professor de Harvard, o choque que está em curso tem como grandes pólos, por um lado o Ocidente, ainda a civilização dominante, e por outro o Islão, a única civilização que ao longo da História esteve por duas vezes à beira de fazer colapsar o Ocidente. Uma aliança sino-islâmica é altamente provável e a civilização ortodoxa (Rússia), pode também sentir-se tentada a juntar forças contra o Ocidente.
Para Huntignton, o problema não é o fundamentalismo islâmico, mas sim o Islão, uma civilização diferente, convencida da sua superioridade da sua cultura e frustrada com a inferioridade do seu poder.
No Ocidente, muitos políticos recusam perigosamente a visão de Huntington, como se recusar a mensagem tivesse o condão de evitar as ameaças que o professor antevê. Chegou-se até ao caricato de, para exorcizar o título da obra, se ter inventado uma “Aliança de Civilizações”, sob os auspícios do inenarrável Zapatero e do primeiro-ministro turco, Recip Erdogan.
Mas a genial obra de Huntington, (quem duvide da sua genialidade pode conferir a inquietante coincidência entre aquilo que escreveu há mais de 10 anos e o que se passa no mundo), foi levada muito a sério no mundo islâmico. Por exemplo, mais de mil exemplares foram comprados pelos Guardas da Revolução ao editor iraniano.
É hoje clara a intenção do Irão em alcançar o estatuto de Estado-Núcleo da civilização islâmica, usando Israel e a Palestina como pretexto para avançadas no território sunita e árabe, onde move já vários peões e algumas peças mais valiosas.
Mas Huntington não considerava ser o Irão o país mais vocacionado para Estado-Núcleo da civilização islâmica, papel que, segundo ele, estava destinado à Turquia.
De facto a Turquia tem quase 80 milhões de habitantes, um GDP nominal de 800 biliões de dólares e uma economia avançada, ao passo que o Irão não chega aos 75 milhões de habitantes, o seu GDP é menos de metade e a sua economia bastante atrasada. Além disso a Turquia é sunita, (tal como 90% do mundo muçulmano), ocupa uma posição estratégica no Médio Oriente, e tem um prestígio histórico que busca raízes no Califado otomano.
O laicismo, introduzido à força por Ataturk e mantido com mão de ferro pelos militares, é um óbice de monta que todavia está em vias de ser destruído. A Turquia está em plena reislamização, tendência que começou na década de 80 e que redundou na eleição do islamista Recep Erdogan. Hoje em dia o laicismo turco é uma ténue sombra do que era há 30 anos e Erdogan tem acelerado o processo, utilizando inteligentemente as exigências democráticas da UE para aniquilar o poder político do Exército Turco, de facto o único obstáculo à reislamização do país.
Na semana passada a Turquia acolheu a conferência sobre a “Vitória de Gaza”, com a participação de centenas de islamistas, tendo como objectivo criar mais uma frente da jihad global.
O apoio turco a semelhante iniciativa, denuncia o progressivo alinhamento do país com as posições anti-ocidentais e anti-israelitas. De resto os oradores fizeram constantes referências elogiosas à recentes atitudes anti-israelitas de Erdogan que nos últimos tempos se sente com confiança suficiente para não temer assumir às claras as suas simpatias islamistas.
Os sinais são claros e inequívocos. A nível interno vem alterando as leis seculares impostas por Ataturk, tem promovido detenções de responsáveis militares alegando conspirações contra o Estado e fez eleger um Presidente que está sob o seu controle.
A nível externo, começou por recusar o transito por território turco da 4ª Divisão americana que deveria invadir o Iraque pelo Norte, assinou tratados com o Irão e com a Síria, e faz questão de intervir na questão israelo-árabe, tomado partido pelo Hamas, convidando Mashal e os lideres do Hamas para conversações e, sobretudo, está a rever profundamente a relação estratégica com Israel, país com quem tinha uma sólida e antiga cooperação militar e de informações.
É verdade que há ainda forças poderosas que se opõem à deriva islamista, especialmente no seio do Exército mas, como disse Yahya Safavi, conselheiro de Ali Khamenei ” A coragem de Erdogan ( em Davos), evidencia o despertar islâmico do povo turco, como resultado de influência da Revolução Islâmica”
Salvo um cada vez mais improvável golpe militar, a islamização da Turquia parece imparável e o país surgirá, tal como Huntington previu, como o Estado-Núcleo da civilização islâmica. Dotar-se-á de armas nucleares e os seus seguidores serão o Irão, já nas mãos dos integristas, e o Paquistão, que também não tardará a cair.
26 comentários:
Há gente que nunca aprende, porque não quer, com as lições da História. Por isso detestam Huttington.
Já se terão esquecido que a Turquia foi o aliado preferencial do Eixo Central na primeira Guerra Mundial?
Leia-se o que T.E.Lawrence, um excelente conhecedor dos árabes e ainda mais do inimigo turco, escreveu no seu "Os sete pilares da sabedoria" e entenderão tudo, se quiserem.
A quinta coluna neste momento rejubila.
Manuel Xavier
Um bocadinho de rigor histórico, não ficava nada mal ao Lidador. Leiam-se as declarações do próprio Huttington, publicadas no "Público" de há umas semanas atrás (aquando da sua morte), onde ele renegava as teses do "Choque de Civilizações". É caso para dizer, se o método não se adapta à realidade, adapta-se a realidade ao método...
Caro Holandês, gostaria que concretizasse a minha falta de "rigor histórico".
Huntigton escreveu aquilo que eu disse que escreveu (tenho aqui o livro à minha frente), e os acontecimentos que cito, ocorreram todos.
Quanto às "profecias", essas de facto não têm rigor histórico porque é da natureza da história referir-se apenas ao passado. Quando prevemos que algo aconteça, não usamos rigor histórico, obviamente.
Quanto ao renegar das teses, é falso aquilo que diz.
Samuel H, não "renegou" teses nenhumas, as teses não são actos de fé, são análises sustentadas em factos, interpretação de factos e uma cola que é a inteligência do autor.
De qq forma estou curioso..gostaria de saber onde é que o Holandês foi desencantar essa "renegação".
Ah, e já agora, em que é que discorda do retrato aqui traçado, sobre a forma como a Turquia se está a mover para o lado islamista.
Não basta dizer que não gosta de ouvir...
Quando Portugal cair já estarão preparados para mullahs certos tipos que bem conhecemos.
Se agora fingem que apoiam a liberdade de costumes é só para esta merda amadurecer e cair mais depressa.
Depois acabam com a panascagem, como dizem entre eles, num ápice.
E quem se divorciar é lapidado.
Luís Meirim
É verdade que Huntington escreveu isso. Mas, também é verdade que o livro do Huntington é de 1996 e só foi recuperado após os acontecimentos do 11/9, quando os defensores da invasão do Iraque usaram a tese do livro para justificarem a guerra. Posteriormente, e à medida que a operação Iraque descambou no fiasco que sabemos, os defensores da teoria da "guerra das civilizações" (entre os quais o autor) distanciaram-se da guerra e do próprio conceito do "eixo do mal" que recusava qualquer relação com o Irão e restantes países neste incluidos. Estas declarações não são minhas, são do próprio Huntington em extensa entrevista cuja tradução foi publicada pelo "Público" no seu suplemento P2, da última semana de Dezembro de 2008, logo após a sua morte (24/12/08).
De resto, e nos ultimos anos da sua vida, Samuel Huntington estava muito mais preocupado com a identidade da nação e com a imigração dos "chicanos" (que ele considerava um perigo para a unidade americana) do que com inimigo externos, chegando, inclusive, a advogar conversações com os países islamitas (ver entrevista).
Relativamente à Turquia, sempre foi um país muçulmano, mas também foi sempre o país mais laico e secularizado da Europa. Podemos querer ver em Erdogan um "potencial inimigo", mas isso só não chega para apelidar a Turquia de país de islamitas radicais. Se assim fosse não estariam na NATO, nem teriam posto as suas bases à disposição dos EUA durante a invasão do Iraque.
Uma coisa é querermos a "guerra a todo o custo" e necessitarmos de inimigos (os militares sofrem desse síndrome), outra é a realidade.
Penso, aliás, que a actual administração americana tem uma posição bem mais pragmática relativamente a esta questão: oferecer o ramo de oliveira, sem deixar cair o bastão. A ver vamos.
Quem também fez isso de oferecer o ramo de oliveira sem perder o bastão foi o primeiro-ministro Chamberlain.
Mas vai-se a ver e no fim perdeu o bastão, perdeu o ramo e até os tomates lhe cairam aos pés.
Porque ele e os lordes não amavam a paz, tinham era preguiça de lutar até porque sem lutas pensavam eles a sua classe continuava a rapar melhor os ingleses comuns.
A isso se chama decadencia. Os americanos agora querem paz porque gostam mais de os andar a coçar tranquilamente. Como se os turcos e companhia se preocupassem com isso. No fim vão comer a trampa dos chineses e o papel higiénico dos turcos e iranianos. E é bem feita para não serem poltrões.
NUNO
" o livro do Huntington é de 1996 e só foi recuperado após os acontecimentos do 11/9"
Não sei a que chama "recuperado". O livro não é um descritor de conjunturas, é um mapa estrutural que permite compreender os acontecimentos.
Está para as relações internacionais, como a deriva dos continentes está para a geologia.
Não desencadeia fenómenos nem os prevê...explica-os.
"os defensores da invasão do Iraque usaram a tese do livro para justificarem a guerra."
Concretize, por favor. Não me recordo de os EUA, ou os trinta e tal países da coligação terem usado a tese do livro para justificar o que quer que seja.
" operação Iraque descambou no fiasco que sabemos"
Sabemos? Olhe que estamos em 2009 e parece que o holandês ainda não se apercebeu do que se está a passar no Iraque. Acredita mesmo que a História parou no momento em que você acha que deve ter parado?
" distanciaram-se da guerra e do próprio conceito do "eixo do mal" "
Huntigton nunca usou tal designação. o Holandes está a misturar alhos com cebolas e a debitar o habitual e estafado conjunto de slogans que passam por "correctos", nos círculos de uma certa esquerda que se acha iluminada e que em boa veradde, não tem a mínima ideia das forças telúricas que sacodem o mundo em que vivem.
" chegando, inclusive, a advogar conversações com os países islamitas"
E então? Importa-se de explicar em que é que isso renega a tese dele? Leu o livro, por acaso?
No parágrafo final vem esta frase:
"Os futuros da paz e da civilização dependem da compreensão e da cooperação entre os dirigentes políticos, espiritituais e intelectuais das maiores civilizações do mundo. No mundo que nasce os choques de civilizações são a maior ameaça à paz e uma ordem internacional assente nas civiizações será a maior salvaguarda contra uma guerra mundial"
"Relativamente à Turquia, sempre foi um país muçulmano, mas também foi sempre o país mais laico e secularizado da Europa."
Sempre? Ataturk matou milhares de pessoas, erradicou o alfabeto árabe, liquidou centenas de clérigos, para fazer a Turquia moderna. Sabe há quanto tempo foi?
" não chega para apelidar a Turquia de país de islamitas radicais."
Não, ainda não é...mas caminha para lá. Os sinais são claros.
"actual administração americana tem uma posição bem mais pragmática relativamente a esta questão: oferecer o ramo de oliveira, sem deixar cair o bastão."
Meu caro, penso que ainda não compreendeu o cerne da ideologia islâmica. o meu amigo, como muitos outros, continua a pensar que o islão é uma religião como as outras e pura e simplesmente não consegue deixar de olhar para ele sem usar os filtros mentais da civilização a que pertence.
Faça-se um favor..leia o livro por si mesmo.
É de uma clareza impressionante, não faz juizos de valor, é puramente descritivo. É um mapa.
Caro Lidador:
O livro é, de facto, um "mapa", mas foi escrito (inicialmente como ensaio) em 1993 e publicado em 1996. Estamos em 2009 e o autor, falecido há menos de dois meses, deu uma entrevista (leia-a, também, já agora) onde se distancia dessa visão maniqueista. Foi ele que o disse, não fui eu.
Quem sou eu para discordar do Samuel?
Não caiu mas encontra-se à beira de... Por enquanto as altas patentes militares ainda seguram as pontas, mas não sei durante quanto tempo.
E, nesta questão, depois de tanto pensar e ler sobre o assunto, encontro-me cada vez mais tentado a encarar a entrada da Turquia na União Europeia como algo de necessário para fazer parar o avanço dos radicais e para apoiar os moderados.
Não podemos perder a Turquia para o outro lado, tal seria uma enorme derrota para o Ocidente e uma vitória para o Islão radical.
Os jovens Turcos que conheço, tipos que considero totalmente Ocidentais, todos eles muçulmanos e fortemente laicos, me dizem o mesmo: o movimento extremista na Turquia ganha cada vez mais força, impulsionado pelas forças que nós bem conhecemos.
A educação que tiveram (apesar de aqueles que conheço serem de Istambul) está a ser substítuida por uma educação cada vez mais Islamizada, em especial nas zonas mais orientais da Turquia, onde o Estado Central não consegue nem quer entrar.
E isto é algo que nós não poderemos admitir. A Turquia dá muitos ares de Ocidentalidade mas, ao mesmo tempo, começa a dar outros ares bastante preocupantes.
E, o curioso, é que mais uma vez Israel é uma peça bastante importante do tabuleiro. O poderio militar Turco é de fabrico Israelita, as relações bilaterais entre os países são, apesar de tudo, boas.
Israel, aliás, tornou-se à dias o principal fornecedor de armas da União Indiana. Mais um grande movimento da "Entidade Sionista", numa altura em que muitos consideram Israel cada vez mais isolado.
Ao contrário do Lidador, penso que o mal não vem tanto do Erdogan, que ultimamente, graças à proximidade das eleições, anda a levantar muito o pio
Enquanto for o Erdogan até que as coisas não estão muito mal!!!
E o Egipto?!...
"Meu caro, penso que ainda não compreendeu o cerne da ideologia islâmica. o meu amigo, como muitos outros, continua a pensar que o islão é uma religião como as outras e pura e simplesmente não consegue deixar de olhar para ele sem usar os filtros mentais da civilização a que pertence."
Totalmente de acordo, caro Lidador. Quanto mais leio sobre o Islamismo, mais me convenço que estamos perante um movimento politico de carácter totalitário, que usa a máscara da religião.
E muita boa malta, tão queridinha, tão tolerante, não consegue ver o óbvio. isto é que me assusta. Quanto ao RB, parece que seria boa ideia fazer entrar a Turquia na UE, mas só se este país continuar laico. No caso deste país ser tomado pelos islamitas (a meu ver verdadeira catastrofe), rua com eles.
"Quanto ao RB, parece que seria boa ideia fazer entrar a Turquia na UE, mas só se este país continuar laico."
A intenção seria única e exclusivamente essa. Conservar a democracia Turca, Ocidentalizar ainda mais a Turquia, esmagar o Islão radical.
Porém, não acredito na entrada na Turquia num curto/médio (até longo) prazo. Nem tão pouco sei se
os riscos compensariam.
Caros fiéis,
Rendi-me! Efectivamente encontrei ligações da religião e terrorismo. As noticias são muito alarmante!! Por exemplo:
1 - têm celulas terroristas já em funcionamento nos USA! Uma delas chama-se Army of God e defendem que "...taking all Godly action necessary, including the use of force...". Esta célula já ameaçou utilizar Anthrax (sendo que até hoje só utilizaram pó branco) e apoiam assassinos como Paul Hill! O seguinte é um excerto do que eles afirmam:
""...is a real Army, and God is the General and Commander-in-Chief. The soldiers, however, do not usually communicate with one another. Very few have ever met each other. And when they do, each is usually unaware of the other's soldier status. That is why the Feds will never stop this Army. Never. And we have not yet even begun to fight.""
2 - Outras organizações são transnacionais e defendem o racismo argumentado que eles são o povo eleitos de Deus. Estão espalhados principalmente pelos USA, Canadá e paises anglosaxonicos, pelo que temos de ter muito cuidado! Além disso são profundamente anti-judeus e acreditam que estes são filhos do Diabo.
3 - Existem celulas terristas ligadas a esta religião um pouco por todo o mundo. Já mataram na Indonésia (sendo que algumas vitimas foram decapitadas), existem grupos rebeldes na India (onde tentam ganhar direito a um território), têm milícias activas no Líbano, em Israel planearam atacar alguns sitios sagrados em Jerusalem, já atacaram um consulado americano na Russia.
Eu sei que as vozes do politicamente correcto irão afirmar que estas são uma minoria minúscula dentro desta enorme religião. Que esta religião é uma religião de paz!
Este é um perigo muito grande! Temos de acabar com esta religião!
Temos de acabar com o cristianismo!
"Temos de acabar com o cristianismo!"
A minha religião sou eu próprio.
Boa Stran! Apanhado.
Tu próprio apanhaste-te. Essas noticias sobre fundamentalistas cristãos eu já conhecia. Mas agora, na tua ironia, acabas-te de afirmar aquilo que já tinha observado. Quando se trata de dar cacetada na cultura ocidental, há muita gente de estrema-esquerda pronta. Então quando se trata de avançar com anti-clericalismo, nem se fala. Mas se se trata de criticar, e com justiça, uma "religião" toda ela de paz e de submissão a Deus... Nada. Não se diz nada. Nadinha de nada. Até ficam ofendidos se alguém criticar. Ah, j´
a agora, esses fundamentalistas critãos, quantos atentados já perpretaram?
E já agora, não sou particularmente religioso, e sou defensor do Estado Laico e democrático.
Um bem haja, meu caro Stran. Adorei esta tua ironia.
"Ah, j´
a agora, esses fundamentalistas critãos, quantos atentados já perpretaram?"
Julgo que sabes, afinal:
"Essas noticias sobre fundamentalistas cristãos eu já conhecia."
Antes de começar a criticar a tua afirmação, preciso de esclarecer uma duvida:
"Quando se trata de dar cacetada na cultura ocidental, há muita gente de estrema-esquerda pronta. Então quando se trata de avançar com anti-clericalismo, nem se fala. Mas se se trata de criticar, e com justiça, uma "religião" toda ela de paz e de submissão a Deus... Nada."
Para ti eu sou uma dessas pessoas que classificas como: "gente de estrema-esquerda"?
Caro Stran, para saber se és de extrema (esquerda ou direita), terás de ser tu próprio a dizer me. Tens muitas atitudes de esquerda moderada. Mas em algumas coisas deixas-me algumas dúvidas. De qualquer forma respeito as tuas opiniões, e isto de apesar de discordar de algumas delas (no caso do Islão, por exemplo).
As opiniões são, a meu ver, importantes, mas mais importante é a verdade. Qualquer opinião, por mais bem falante que seja, descarto, se não for verdadeira, ou não ajudar a conduzir à verdade.
Ora, o que se passa em relação ao Islão, e que me aborrece, é que tenho experiencia de convivio com muçulmanos (moderados e alguns mais dados a radicais). Para além de gostar e ler muito sobre História. E aborrece-me as pessoas serem permissivas com coisas inaceitáveis. E ainda por cima aqui dentro, na nossa Europa, democrática e laica.
Daí considerar que estamos perante uma ameaça. Porque a minha experiência de vida assim o mostrou.
E repare, caro Stran, que não levanto problemas nenhuns à emigração oriunda de Africa (tenho muitos e bons amigos daí), da Anérica Latina ou Países de Leste.
Claro que uma boa opinião discordante é boa, para tornar-me mais atento. Para obrigar a pensar. Para ter um grãozinho de dúvia. As certezas absolutas fazem tanto mal à verdade como a mentira! De qualquer modo, às vezes parece-me que falhas o alvo. Disseste que os muçulmanos na Europa são mais progressistas, e os que vivem em países muçulmanos mais retrogados. Por incrivel que te pareça, é ao contrário!
O exemplo que destes desse grupo de fanáticos cristãos também não foi muito feliz. Pergunta a um católico o que pensa desse tipo de grupelhos. Ou a um protestante moderado. Sabias que a tendencia para o fundamentalismo é muito maior, agora, entre protestantes do que entre católicos?
E de qualquer forma, disseste o essencial: o fanatismo religioso é perigosissimo e potencialmente genocida. E nem sonhes que faço aqui distinções entre credos.
Ah, e insisto, respeito as tuas opiniões e leio. Claro que me reservo o direito de discordar, quando assim o entender. Cumprimentos e uma boa noite
Caro EJSantos,
"Caro Stran, para saber se és de extrema (esquerda ou direita), terás de ser tu próprio a dizer me."
Não, não sou de extrema. Nem sei se num futuro próximo me chamaram de esquerda, ou se irei ser um perigoso reaccionário (para tal bastaria ir para um blogue de fundamentalistas do outro lado).
"Tens muitas atitudes de esquerda moderada. Mas em algumas coisas deixas-me algumas dúvidas."
Por favor diz-me quais que fiquei curiosíssimo.
"As opiniões são, a meu ver, importantes, mas mais importante é a verdade."
Concordo com a parte das opiniões, quanto a minha relação com a palavra "verdade" é paricular. Principalmente porque a "verdade" é muito pessoal. No entanto julgo que referias-te a factos, e esses são extremamente importantes. Mas aprendi neste blogue que até estes são motivos de discussão, pois muitas vezes o mesmo facto tem interpretações diferentes.
"Qualquer opinião, por mais bem falante que seja, descarto, se não for verdadeira, ou não ajudar a conduzir à verdade."
Bem aqui o que faço é tentar dar os meus argumentos, apresentar os motivos porque defendo a posição X e depois quem ler irá ter a sua interpretação.
"Ora, o que se passa em relação ao Islão, e que me aborrece, é que tenho experiencia de convivio com muçulmanos (moderados e alguns mais dados a radicais). Para além de gostar e ler muito sobre História. E aborrece-me as pessoas serem permissivas com coisas inaceitáveis."
Julgo que aqui existe um erro de interpretação relativo às minhas posições. E acontece com muitas pessoas deste blogue. (e tenho de admitir que já cometi esse erro relativamente ao Carmo).
Quando eu critico um artigo neste blogue (ou noutros do genero) não estou a defender a posição dos muçulmanos radicais, da sharia, ou da delapidação das mulheres. Estou só a criticar o que eu julgo ser um erro.
E critico muitas vezes a forma dogmática e errada com que se aborda este problema (atenção, aqui neste blogue). Já disse várias vezes, que muitos artigos fazem me lembrar a propaganda nazi contra os judeus.
No inicio, por exemplo fazia-me muita confusão porque é que os ingleses deixava, e julgo que ainda deixam, pregar alguns imãs no seu país. Só depois percebi a relação que os países anglo-saxonicos têm com o valor "Liberdade de expressão". Faz parte da cultura deles esse nível de liberdade.
Agora tudo o que são crimes praticados por pessoas que são muçulmanos eu repudio, como criminosos que são (p.e. crimes de (des)honra). A questão é existe o grupo (A, B, C, D) que são muçulmanos. O elemento C cometeu um crime de (des)honra, que justifica com a religião. Ora para mim não faz sentido atacar aquela religião pois estarei a atacar simultaneamente o elemento A, B e D, que não têm nada a ver com o assunto. Prefiro que o elemento C seja severamente punido e isolado do grupo quando criticado.
"E ainda por cima aqui dentro, na nossa Europa, democrática e laica."
Concordo que muitos dos crimes são perfeitas aberrações, mas para mim valorizo tanto esses crimes como as violações ou outros crimes aberrantes independentemente de qual a religião ou se existiu motivo religioso.
"Daí considerar que estamos perante uma ameaça."
Honestamente, julgo que o fanatismo religioso é uma ameaça independentemente de qual for a religião. É esta a minha relação com o fanatismo religioso.
"E repare, caro Stran, que não levanto problemas nenhuns à emigração oriunda de Africa (tenho muitos e bons amigos daí), da América Latina ou Países de Leste."
Então e da Asia?
"Claro que uma boa opinião discordante é boa, para tornar-me mais atento. Para obrigar a pensar. Para ter um grãozinho de dúvia. As certezas absolutas fazem tanto mal à verdade como a mentira!"
Concordo, não em absoluto, pelos motivos que apresentou :-)
"Disseste que os muçulmanos na Europa são mais progressistas, e os que vivem em países muçulmanos mais retrogados. Por incrivel que te pareça, é ao contrário!"
Custa-me muito acreditar (talvez pelo exemplo dos portugueses). Por exemplo, no incidente dos cartoons foi necessário aos imãs que estavam na Dinamarca irem para os países do Médio Oriente para conseguirem gerar a polémica. Nesse caso em concreto os muçulmanos a residir na Dinamarca foram mais progressistas (como um todo).
"O exemplo que destes desse grupo de fanáticos cristãos também não foi muito feliz. Pergunta a um católico o que pensa desse tipo de grupelhos. Ou a um protestante moderado."
Julgo que foi feliz e tu acabaste a seguir por confirmar:
"Sabias que a tendencia para o fundamentalismo é muito maior, agora, entre protestantes do que entre católicos?"
Parece-me que sim. No entanto não te esqueças que eu falei em cristãos e os protestantes são cristãos.
Deixa-me explicar o meu exemplo. O que eu quis exemplificar é que eu posso criar em dados reais e dizer uma religião é fanática sem o ser num todo. Obviamente a minha opinião, caso alguém defendesse o que escrevi, seria em todo idêntica à que eu tenho relativamente ao Lidador, por exemplo. Ora tu que vives por cá, sabes que apenas estaria a falar de uma minoria e principalmente da facção protestante dos cristãos. Mas se eu pegar neste mesmo relato e for até à Indonésia, provavelmente encontraria bastantes que partilhariam a minha opinião, principalmente porque já foram alvos de problemas com cristãos fundamentalistas.
Nada do que escrevi naquele comentário é falso, no entanto a minha interpretação daqueles dados é errada.
Por exemplo eu acho que a opinião do wilders sobre o Alcoorão é no minimo estupida. Nem que seja porque as perseguições a livros são caracteristicas de regimes ditatoriais.
A minha abordagem a este problema é uma abordagem humana (não confundir com humanista), isto é prefiro centrar a discussão no ser humano, nas suas motivações, no seu contexto, nas suas opções e não tanto em conceitos abstratos.
No entanto admito que para criar a imagem de inimigo é muito mais fácil falar os conceitos abstratos.
Aliás é a mesma tecnica que os fundamentalistas islamicos utilizam, quando falam no "ocidente".
"E de qualquer forma, disseste o essencial: o fanatismo religioso é perigosissimo e potencialmente genocida. E nem sonhes que faço aqui distinções entre credos."
Pois é que eu também não. Nesta estamos de acordo.
"Ah, e insisto, respeito as tuas opiniões e leio. Claro que me reservo o direito de discordar, quando assim o entender. Cumprimentos e uma boa noite"
Obrigado! E acredita não tenho nenhum problema em discordares, pelo contrário uma boa discussão é óptima, e afinal eu defendo um mundo pluralista, não o seria se todos tivéssemos a mesma opinião!
Tem uma óptima noite.
"Então e da Asia?"
Ah, ah, ah... :-)
E não te esqueças de australianos, esquimós e bosquimanes.
Até um próximo post e outros comentários. Tentarei ser mais claro na minha escrita (mas será dificil, pq se avizinha situações de muito trabalho e estudo).
Cumprimentos
EJSantos
@ RB: ”E, nesta questão, depois de tanto pensar e ler sobre o assunto, encontro-me cada vez mais tentado a encarar a entrada da Turquia na União Europeia como algo de necessário para fazer parar o avanço dos radicais e para apoiar os moderados.
Não podemos perder a Turquia para o outro lado, tal seria uma enorme derrota para o Ocidente e uma vitória para o Islão radical.”
Nisto concordo com o RB, e pelas mesmas razões: “parar o avanço dos radicais e para apoiar os moderados”, e sempre discordei de Wilders, que foi sempre contra a entrada da Turquia na UE.
Mas no verão passado fui à Turquia e aproveitei para visitar um casal amigo. Gente o mais secular possível e, depois de termos assistido em casa deles aos quartos de final do campeonato Europeu de futebol entre a Turquia e Alemanha, a conversa dirigiu-se gradualmente para os problemas relacionados com o Islão, Wilders e afins.
A minha mulher fez questão de sublinhar que não está de acordo com Wilders. Eu fiz questão de sublinhar que sobretudo não estou de acordo com Wilders em relação à entrada da Turquia na UE, e acrescentei as mesmas razões que RB acima foca.
Os nossos amigos turcos respondem imediatamente que não querem entrar na UE...! Confuso pergunto porquê?
“Porque se entrarmos para a UE os militares são obrigados a ceder o poder político que ainda têm. E os militares são a nossa última e única garantia contra os islamistas.”
Toma lá que já almoçaste!!!
E o meu amigo turco, ao notar a perplexidade que a sua resposta provocou, acrescentou à laia de explicação:
“é que nós, na nossa idade, já não temos muita vontade de sair daqui para pedir asilo político na Europa Ocidental”.
Na mesma noite, depois de jantar, fomos os dois casais beber um copo a uma esplanada de Avanos - era a despedida, no dia seguinte iríamos apanhar o avião de regresso.
As mulheres pediram um chá, eu e o meu amigo pedimos um whisky. O empregado diz discretamente ao meu amigo que estava autorizado a servir-me álcool a mim (turista), mas não a ele (local)! Situação deveras embaraçosa e humilhante para o filho da terra que ficou furioso mas, talvez pela nossa presença, tentou disfarçar quando podia dizendo ao empregado que nesse caso ia-mos beber a outro lado.
Quando já nos dirigia-mos para os carros, cruzamo-nos por acaso com o dono do estabelecimento, que era um conhecido do meu amigo e que logo nos obrigou a voltar para a nossa mesa e é evidente que podíamos, por especial favor, beber o whisky que quiséssemos...
Outra vez como o RB, fiquei a pensar: “a Turquia dá muitos ares de Ocidentalidade mas, ao mesmo tempo, começa a dar outros ares bastante preocupantes.”
Caro Carmo da Rosa
Excelente intervenção. Obrigado por este ponto de vista local (entenda-se, o dos seus amigos turcos).
Cumprimentos
RB e CdR, eu penso,pelo contrário, que a Turquia não deve entrar na UE.
Entendo o vosso argumento, mas acho-o falacioso. Parte do principio ( errado) que o que se passa na Turquia tem alguma coisa a ver com aquilo que a UE faz ou deixa de fazer. No fundo recupera a velha noção da "culpa", isto é, os turcos são incapazes de fazer escolhas e é necessário que a UE aja paternalisticamente, propiciando incentivos e/ou correctivos.
No limite, será tudo "culpa" da UE, de nós portanto.
Eu penso que estão enganados e ainda não entenderam a natureza das forças que estão a mover o mundo islâmico.
Não se trata de conjunturas, não se trata de haver uma boa cenoura a acenar, trata-se dos valores profundos das sociedades.
A Turquia tentou a modernização e a ocidentalização. À força. Foi razoavelmente bem sucedida, mas as velhas forças ainda lá estão. As mesmas que deram a volta ao Irão em 1979. Lembrem-se, por favor, que o Irão foi o 1º país islâmico a ter uma experiência constitucional, a tentar o laicismo, a modernizar e a ocidentalizar.
o Xá chegou mesmo a prender centenas de clérigos, entre os quais Khomeiny, acolhido em Paris.
Alterou até o calendário, deixando de contar os anos pela Hégira.
Num instante tudo mudou e o país mais ocidentalizado do mundo islâmico é o que é hoje.
A Turquia está a seguir pelo mesmo caminho e nas eleições de Março prevejo que a velocidade aumente.
E não tem nada a ver com a UE, mas sim com a própria sociedade turca e com os valores islâmicos latentes.
Trazer este país para a UE, vai alterar radicalmente esta União que se agora já é pouco identitária, mesmo havendo valores partilhados, depois será um corpo estranho, no qual os cidadães dificilmente se poderão rever.
Já agora meu caro Lidador,
Aqui ficam mais umas quantas frases do Hunttington:
"Western belief in the universality of Western culture suffers three problems: it is false; it is immoral; and it is dangerous . . ."
"I think it’s hard to talk about the Muslim world and Christian world as blocks."
"There will be associations and partnerships between some Muslim countries and some Christian countries. Those already exist. And they may shift as different regimes come and go and interests change."
"I don’t think it is all that useful to think in terms of those two solid blocks."
"I am doubtful that there will be any sort of real coherence of Muslim societies into a single political system run by an elected or non-elected group of leaders."
"I think they are certainly moving toward urbanization and much more pluralistic political systems. In almost every Muslim country, that is occurring."
"As a final thought, do you think your thesis, particularly the clash of civilizations theory, is used by people for their own agendas?
Hunttinton: Oh absolutely, all the time."
Lidador, eu compreendo perfeitamente os seus argumentos e ainda mais as suas apreensões, mas creio que é preciso ter em conta que a Turquia não é um entidade, não é uma pessoa com vontade e estratégia própria. É um complexo aglomerado de interesses económicos, grupos étnicos, e diferenças religiosas em constante ebulição que produzem no mesmo país mundivisões completamente diferentes, e dificilmente é possível saber (eu pelo menos não sei!) para que lado vai cair.
É verdade que as velhas forças (Islão otomano) ainda lá estão, mas as outras forças (Kemalistas) também ainda não se foram embora! Por isso na Turquia o Islão só poderá ser imposto, tal e qual como nos anos 20 a ocidentalização, à força. A questão que se coloca é se Erdogan é um Khomeini disfarçado, mas isso nem é o mais importante, a questão fundamental é saber se os Kemalistas (turcos seculares) se vão deixar facilmente derrotar como o Xá no Irão... Não creio.
Isto sem abordar, para não complicar mais a coisa, e porque se trata de pura especulação, a influência que a UE, os EUA, a Umma, o Irão, os Russos, os Chineses, poderiam exercer nesta contenda, apoiando uma ou outra facção....
Caro Lidador,
Li, como sempre, com muito interesse o seu "post".
Não é que não tivesse apreciação por Huttington, mas a verdade é que o "choque" não mais é do que uma arguta descrição.
No entanto, muitas pessoas levaram o livro para além do que o próprio autor esperava, e o mesmo é incontornável.
Num dos meus artigos publicados no jornal Público, "Na encruzilhada: UE, Turquia e NATO", considerei o seguinte:
"(...) Devido à importância da sua posição geográfica, a Turquia é, desde 1952, membro da Aliança Atlântica (NATO). Naturalmente que a data atrás referida remete-nos para o período da Guerra fria. Não sendo a Turquia um país comunista não é estranhar que, juntamente com a Grécia, ambos os países tenham aderido à NATO e, assim, ficaram mais protegidos das tendências expansionistas da ex-União Soviética. Mas só porque a Guerra fria já acabou com ela também se foram as tendências expansionistas da Rússia?
Há, desde 1725, na Rússia, um documento que, apócrifo ou não, tem influenciado o seu comportamento como Estado. Nem sequer a Revolução de 1917 e a consequente mudança de regime alterou a execução das ideias nele contidas. Refiro-me ao Testamento de Pedro, o Grande. Sendo que a mudança para o sistema capitalista tem acelerado o seu potencial de crescimento, não é de admirar que o germe da expansão se volte a manifestar.
(...) Como tal, se a sua candidatura à UE for adiada e/ou recusada e na hipótese de um regime teocrático ser estabelecido no Iraque, a Turquia passará a estar muito mais receptiva a uma eventual aliança com a Rússia. (...) Por sua vez, na suposição da transformação do Iraque num regime teocrático, países como a Arménia e Geórgia não ficarão sossegados e irão procurar protecção algures. Supondo que esse apoio virá da Rússia, que efeitos terá no xadrez, não apenas regional mas também mundial, uma aliança que una a Rússia, Turquia, Arménia e Geórgia? Pela mesma ordem de razão é claro que, devido à falta de alternativas, o Cazaquistão, Azerbeijão, Turquemenistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão também poderão aderir a essa coligação. (...) E, de todos estes países, qual é aquele que, devido ao seu passado histórico, está mais vulnerável a esse cenário? A Turquia, sem dúvida nenhuma.
Convém não esquecer que resultante da sua acção diplomática, particularmente sentida no âmbito da Organização de Cooperação de Xangai, a Rússia foi capaz de recuperar muita da sua anterior influência na região.
(...) Mas, será que a integração da Turquia na UE sem direito, pelo menos durante um período de tempo nunca inferior a dez anos, às prerrogativas do acordo de Schengen é prejudicial? E qual será o custo da sua não entrada?"
Continuando a seguir estas temáticas, e vendo o que se está a passar da Turquia, não sei se a ideia que ponderei ainda compensa.
Mas e a NATO sem a Túrquia?
E a Europa sem a NATO?
VFS
VFS, o seu artigo coloca questões interessantes de respostas ainda mais interessantes, se alguém se atrevesse a dá-las.
As questões conjunturais são importantes mas , na minha opinião, há que tentar perceber as forças telúricas que lhe subjazem.
Foi isso que fez Huntington.
A Turquia não é um país "ocidental"...não pertence a esta civilização e não é uma pequena história de coabitação que irá mudar isso. Há certamente naquele país quem prefira encostar-se à modernidade, mas a vaga, desde há 20 anos a esta parte é islâmica.
Na Guerra do Iraque a Turquia não hesitou entre a fidelidade à umma e ao aliado americano. Recusou que os americanos usassem o seu território para lançar uma segunda frente e essa atitude foi definidora. Este país já não é fiável como pilar da NATO.
Aproxima-se um tempo de ordálias. O Irão ( a menos que desmantele o programa nuclear militar) será atacado pelos EUA ou por Israel e nisto eu quase apostaria uma boa quantia.
A Rússia acaba de adiar a venda de sofisticados sistemas antiaéreos ao Irão, por saber que quando os fornecer, está a definir um time frame para um ataque aéreo ( e tb porque os israelitas ameaçam divulgar as contra-medidas que já desenvolveram para diminuir a eficácia do sistema, o que iria fragilizar a própria Rússia, expondo as suas vulnerabilidades).
A China estará sempre ao lado de Teerão, com quem conta para atenuar os seus problemas no Xinjiang.
A Turquia está claramente do lado do Irão e a retórica dos seus dirigentes políticos quer dizer exactamente aquilo que diz.
Em Março há eleições na Turquia. Se o partido de Erdogan ganhar, os dados estão lançados. Ou os generais ainda conseguem defender a herança kemalista, ou a Turquia adentra-se irremediavelmente no islamismo.
E o islamismo não tem nada a ver com os valores profundos que definem a UE.
Está nas antípodas.
Enviar um comentário