É sabido que Cavaco é um europeísta dos quatro costados. O fundamentalismo dele levou-o tão longe que, ainda como primeiro-ministro, legislou sobre as cores dos táxis que passaram então a ser obrigados a usar o padrão europeu. Que eu saiba, nenhum outro país da UE aderiu a tal coisa, mas Portugal, como bom aluno, sim. Hoje os proprietários dos táxis voltam a poder usar as cores tradicionais em Portugal, e voltámos a ter ‘pretos de cabelo verde’ por todo o país.
A primeira visita oficial ao estrangeiro de Cavaco Silva foi a Espanha. A sua a sua postura pró-europeia rapidamente se integrou na visão pequenina e tacanha de Sócrates aplicada à política económica externa, resumida no seu lema ‘Espanha, Espanha, Espanha’. Esta prioridade socratina e a sua política fiscal leva a que Portugal esteja a contribuir para o crescimento espanhol enquanto vai ficando mais pobre em relação ao vizinho.
Definitivamente, já há quem tenha entendido isto. Mais ainda, Cavaco e aqueles que o aconselham parece que também se aperceberam que a possibilidade de a Europa estar a caminhar para a entropia é considerável. As consequências na economia já estão aí. Portanto, é preciso abrir ou reabrir as portas da economia ao resto do mundo e deixar entrar ar fresco.
Na visita ao Brasil fica claro que o Presidente reconhece o potencial económico do gigante sul americano que cresce a um ritmo acelerado, e que Portugal pode beneficiar desse crescimento não só pelas exportações, como pelo investimento, como aliás já está a acontecer. Estes factores económicos não têm potencialidade séria de crescimento junto dos parceiros europeus, ao passo que no Brasil as possibilidades e esse respeito são mais vastas e a rentabilidade maior.
Desde há vários anos que não víamos um responsável político português apontar um caminho de desenvolvimento fora do âmbito do eurocentrismo. Cavaco, homem de convicções e teimosias, mudou. É porque algo de importante, finalmente, está para ser posto a descoberto.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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