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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Olmert rompeu. Alguém vai ter de concertar...


Já ninguém tem dúvidas que a Administração Bush vai deixar a ribalta sem qualquer tipo de avanço no que diz respeito ao conflito Israelo-Palestiniano: o mês de Janeiro aproxima-se a passos largos, estando Obama impacientemente à espera de ocupar o cargo de Presidente dos Estados Unidos da América. A instabilidade política vivida em Israel trama ainda mais Bush, sendo insensato tomar alguma decisão agora. Como tal, vai-se manter o status quo, tendo Obama que lidar com assunto mal aterre na Sala Oval.

Porém, George W. Bush não tem razões para se sentir culpado: ele é, afinal de contas, apenas mais um dos Presidentes que sai sem solução para o conflito, conflito esse que se arrasta no tempo há já longos milénios, tendo a última saga começado no final da Primavera de 48, quando David Ben Gurion declarou o justo regresso do Estado de Israel.

A História da última saga do conflito é feita de avanços e recuos, de tempos tensos e de tempos de esperança. Quem não acreditava na paz quando Bill Clinton conseguiu que Rabin e Arafat assinassem os Acordos de Oslo? Quem não acreditava que estava tudo estragado quando Ariel Sharon cometeu o crime de visitar a Mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém, sendo declarada, como consequência deste terrífico acto, a 2ª Intifada?

Nunca ninguém chegou perto da resolução do conflito. Porém, algumas alminhas tontas não se cansam de pronunciar o nome de Jimmy Carter, como se ele fosse o Presidente que mais fez pela resolução do conflito.

Jimmy Carter foi um coitadinho que foi parar à Casa Branca por acaso, tendo o povo Americano consertado o erro quando lhe impingiu uma das maiores derrotas da História das Eleições Norte-Americanas (derrota 489-49, contra o obscuro Reagan). Foi "graças" a ele que, supostamente, Sadat se deslocou a Camp David para assinar a paz com Begin.

Jimmy Carter é portador de um Prémio Nobel da Paz, mas não é por isso que deixa de ser um dos Presidentes mais impopulares de sempre da História dos Estados Unidos. O amor por Jimmy Carter é coisa exclusiva deste lado do Atlântico.

Desmistificar este tontinho é a coisa mais fácil do Mundo. No que concerne ao conflito Israelo-Palestiniano, Jimmy Carter limitou-se a colher os frutos da recente boa relação entre Israel e o Egipto, que surgiu após o término da Guerra do Yom Kippur. Carter teve a audácia de perceber que era possível qualquer coisa de novo, único, mas o mais difícil já estava alcançado: Sadat já tinha inclusive visitado Israel (Novembro do ano em que Carter ascendeu ao cargo), estando pronto para reconhecer os Sionistas a qualquer momento. Jimmy Carter pouca influência teve na aproximação do Egipto a Israel, porque ela já estava, de facto, conseguída.

Porém, o que fica para a História é a data dos acordos: 17 de Setembro de 1978, durante o mandato de Carter. Ninguém se lembra do acordo celebrado por Rabin (durante o seu primeiro mandato, que foi de 1974 a 1977) no ano de 1975 com o Egipto, onde ambas as partes reconhecem que todos os conflitos entre os dois países devem ser resolvidos por meios não militares.

Mas e agora Israel? O que fará Obama por vocês? Dará apoio incondicional? Tentará encontrar o caminho para a paz sem incorrer em dolorosas penas para os Israelitas? Atacará o Irão?

O que Obama vai fazer dependerá muito de quem for o vencedor das eleições legislativas Israelitas. Aquilo que o Presidente dos Estados Unidos pensa e quer fazer é um factor importantíssimo, mas convém não tirar os olhos do homem/mulher que representará Israel. Por muito que o Presidente mova influências, encontrar outro Olmert não vai ser tarefa fácil...

Creio que se fechou um ciclo importante com a saída de Olmert. Será muito difícil encontrar alguém tão permeável à frente de Israel novamente: Ehud estava disposto a fazer concessões absolutamente incríveis, apesar da total ausência de credibilidade que tinha. Ehud era um Primeiro-Ministro bastante impopular, acusado de corrupção, frágil fisicamente e com uma carreira militar pouco extensa para o habitual num PM Israelita.

Considero que se afiguram dois candidatos fortes para Primeiro-Ministro de Israel: Tzipi Livni e Benjamin Netanyahu.

Livni ganhou as eleições para a liderança do Kadima a Shaul Mofaz, ministro dos Transportes do governo de Olmert, onde ela própria desempenhava as funções de Ministra dos Negócios Estrangeiros. A diferença entre os dois foi de 531 votos (1,1%), tendo Livni ganho sem maioria absoluta.

Livni é filha de um conhecidíssimo membro do Irgun, uma organização que dispensa apresentações. Pertenceu ao Likud e mudou-se para o Kadima juntamente com Olmert e Sharon, em 2005. Porém, não é da escola Olmertiana..

Já Benjamin Netanyahu é um velho conhecido: foi Primeiro-Ministro Israelita de 1996 até 1999. O irmão mais velho de Benjamin, Yonatan Netanyahu, foi o único soldado Israelita morto na operação Entebbe (1976), que se realizou em solo Ugandês. A operação foi um dos maiores sucessos das Forças de Defesa de Israel: foram resgatados com vida a esmagadora maioria dos reféns a bordo (102 dos 105) do voo 139 da Air France, que tinha sido desviado pela Frente Popular de Libertação da Palestina.

(Creio que esta operação era motivo para uma dissertação do Lidador...)

Benjamin pertence ao Likud, partido de onde saiu Livni, situado na direita "moderada" do espectro político Israelita.

Netanyahu foi um forte crítico do plano de Sharon de retirada da Faixa de Gaza. É bem mais conservador nas concessões, mais duro a negociar.

As sondagens mostram os dois muito próximos.

Livni tem o fardo Olmert; Netanyahu o fardo do osso duro de roer, algo péssimo numa altura em que a opinião pública Israelita parece procurar a paz a praticamente todo o custo.

Porém, creio que Netanyahu ganhará, fruto da divisão existente dentro do Kadima, do descontentamento com o governo Olmert e do voto necessário dos ultra-religiosos.

Se Netanyahu for eleito, maus dias virão para os Palestinianos e especialmente para o Irão. Netanyahu defende uma política muito agressiva em relação ao Irão, afirmando, até, que o regime Iraniano se assemelha ao Nazi.

Barack Obama irá ter que trabalhar com uma destas duas pessoas. Ele saberá, de antemão, que nenhum deles é Ehud Olmert e que ambos não vão estar dispostos a alinhar com a política seguida nos últimos tempos.

Obama, ele próprio, demonstrou-se radical em um ponto: afirmou, durante a campanha eleitoral, que Jerusalém deveria permanecer "indivisível" e "unida". Na Palestina, apesar destas declarações, continuam a achar que Obama vai ser o Presidente que vai pôr Israel entre a espada e a parede. A nomeação de Rahm Emanuel, apesar deste ser cidadão Americano, pode indiciar uma política bem pro-Israelita de Obama (olha o lobby...), que ele próprio já tinha confessado que queria seguir.

Creio que os desenvolvimentos dependerão muito mais dos Palestinianos do que dos Americanos e dos Israelitas. Os tempos de Olmert já lá vão e agora é Israel quem dita as regras do jogo.

Por acreditar que os desenvolvimentos vão depender muito dos Palestinianos acho que as coisas não irão evoluir consideravelmente. Os Palestinianos perderam uma oportunidade de ouro para conseguírem enormes benefícios, durante os anos de Olmert, e agora vão estar mal habituados à mesa das negociações.

Olmert rompeu. Alguém vai ter que concertar...

7 comentários:

Unknown disse...

Boa análise, caro RB. Deixo-lhe só algumas achegas:

Sharon não visitou "a Mesquita". Visitou um recinto conhecido por Monte do Templo, porque foi aí que esteve erguido o Templo de Jerusalém. A Mesquita, é bastante posterior ao Templo e construida propositadamente sobre as ruínas do Templo, para esmagar e humilhar.
E estava no seu direito. Um israelita pode visitar qualquer sona do seu país.
Mutatis mutandis, imagine que os marroquinos atacavam Espanha pelo facto de o Rajoy ir visitar a Alhambra.
Faz algum sentido?

Sobre a operação em Entebbe, pode crer que a conheço ao pormenor. Em 1984 fiz um curso de operações especiais em Espanha e essa operação foi estudada até ao tutano. Levámos inclusvamente a cabo um exercício semelhante, com dois C-130, que voaram de Zaragoza par Ablitas fizeram uma aterragem de assalto numa pista de terra, etc,etc.

Deixo-lhe aqui a transcrição que na altura fiz para uma revista militar:


"Aterragem de Assalto

A primeira foi executada no Aeródromo de Ablitas.
Era um cenário que buscava raízes no espectacular raid israelita no Uganda, no Aeroporto de Entebbe, ocorrido uns tempos antes e que, pela sua audácia, já constituia um clássico das forças especiais de todo o mundo.

Fez-se uma cuidadosa preparação, e a ideia consistia basicamente em fazer uma aterragem de assalto, com dois Hercules C-130, numa pista de terra, e libertar uns VIPs quaisquer.

Levávamos motos e jeeps e, depois de aturados treinos na Base de Torrejon, os dois bojudos aviões levantaram voo às 04 da madrugada.
Voámos a baixa cota, contornando o terreno o que causou náuseas a algums estômagos mais delicados, tendo-se ouvido algumas inopinadas invocações a S. Gregório.

Ao alvorecer, tal como previsto, aterrámos violentamente no aeródromo, saímos rapidamente e com grande aparato, no meio do estrondear dos motores e do estralejar das armas, a acelerar com as motas e os jeeps. Enquanto os aviões, envoltos em nuvens de pó, se alinhavam para voltar a descolar, a equipa de busca completou a sua cavalgada e trouxe com ela os tais VIP’s.
Deixámos os jeeps e embarcámos rapidamente. Daí a momentos estávamos no ar e as instalações do aeródromo eram sobrevoadas por dois caças, simulando um bombardeamento.
Foi tudo muito rápido. Entre o momento em que os aviões se imobilizaram e o momento em que as rodas largaram o chão, tinham decorrido menos de 10 minutos.
Um sucesso!
No “debriefing” estava toda a gente satisfeita, embora o Villegas tenha posto um pouco de água fria na fervura da nossa jactância, apontando criticamente algumas falhas menores."


Ah, só por curiosidade, este "Villegas", é o actual general Diaz de Villegas, que há duas semanas se demitiu do comando das forças da ONU no Congo, por falta de condições para cumprir a missão.

Anónimo disse...

Excelente texto.
Um àparte, talvez sensato nestes tempos de negrume: o gato não vai às filhós por Jimmy Carter ser o mais impopular ou um dos mais impopulares presidentes e sim por ser um dos mais estúpidos, prejudiciais e obscenamente xóninhas. Pois estas coisas pagam-se (pagam os outros, mais concretamente os que não gostam de aldrabices ornamentadas).
Foi ele que iníciou o triste ciclo de dar o flanco aos que acham bom apanhar bofetadas para não levar pontapés.
Alguém estranha que lhe tenham dado o Nobel da Paz?
Da paz (sonhada)dos cemitérios?

MANO MANECAS

Renato Bento disse...

"Sharon não visitou "a Mesquita""

Certíssimo. Mas isso é para muitos um pormenor... Convém até dizermos que ele visitou e que fez umas caretas lá dentro, para se encontrar um motivo "justo".

O Templo estava lá primeiro. Há até quem diga que a colocação de Jerusalém como cidade santa pelo Islão é uma estupidez.

"E estava no seu direito."

Claro que estava. E todos continuamos a estar.

PS: Obrigado pelas correcções.

Anónimo disse...

Do Washinton Post:

"More often, however, the rankings display a remarkable year-to-year uniformity. Abraham Lincoln, George Washington and Franklin D. Roosevelt always figure in the "great" category. Most presidents are ranked "average" or, to put it less charitably, mediocre. Johnson, Franklin Pierce, James Buchanan, Warren G. Harding, Calvin Coolidge and Richard M. Nixon occupy the bottom rung, and now President Bush is a leading contender to join them. A look at history, as well as Bush's policies, explains why.

At a time of national crisis, Pierce and Buchanan, who served in the eight years preceding the Civil War, and Johnson, who followed it, were simply not up to the job. Stubborn, narrow-minded, unwilling to listen to criticism or to consider alternatives to disastrous mistakes, they surrounded themselves with sycophants and shaped their policies to appeal to retrogressive political forces (in that era, pro-slavery and racist ideologues). Even after being repudiated in the midterm elections of 1854, 1858 and 1866, respectively, they ignored major currents of public opinion and clung to flawed policies. Bush's presidency certainly brings theirs to mind.

Harding and Coolidge are best remembered for the corruption of their years in office (1921-23 and 1923-29, respectively) and for channeling money and favors to big business. They slashed income and corporate taxes and supported employers' campaigns to eliminate unions. Members of their administrations received kickbacks and bribes from lobbyists and businessmen. "Never before, here or anywhere else," declared the Wall Street Journal, "has a government been so completely fused with business." The Journal could hardly have anticipated the even worse cronyism, corruption and pro-business bias of the Bush administration.

Despite some notable accomplishments in domestic and foreign policy, Nixon is mostly associated today with disdain for the Constitution and abuse of presidential power. Obsessed with secrecy and media leaks, he viewed every critic as a threat to national security and illegally spied on U.S. citizens. Nixon considered himself above the law.

Bush has taken this disdain for law even further. He has sought to strip people accused of crimes of rights that date as far back as the Magna Carta in Anglo-American jurisprudence: trial by impartial jury, access to lawyers and knowledge of evidence against them. In dozens of statements when signing legislation, he has asserted the right to ignore the parts of laws with which he disagrees. His administration has adopted policies regarding the treatment of prisoners of war that have disgraced the nation and alienated virtually the entire world. Usually, during wartime, the Supreme Court has refrained from passing judgment on presidential actions related to national defense. The court's unprecedented rebukes of Bush's policies on detainees indicate how far the administration has strayed from the rule of law.

One other president bears comparison to Bush: James K. Polk. Some historians admire him, in part because he made their job easier by keeping a detailed diary during his administration, which spanned the years of the Mexican-American War. But Polk should be remembered primarily for launching that unprovoked attack on Mexico and seizing one-third of its territory for the United States.

Lincoln, then a member of Congress from Illinois, condemned Polk for misleading Congress and the public about the cause of the war -- an alleged Mexican incursion into the United States. Accepting the president's right to attack another country "whenever he shall deem it necessary," Lincoln observed, would make it impossible to "fix any limit" to his power to make war. Today, one wishes that the country had heeded Lincoln's warning.

Historians are loath to predict the future. It is impossible to say with certainty how Bush will be ranked in, say, 2050. But somehow, in his first six years in office he has managed to combine the lapses of leadership, misguided policies and abuse of power of his failed predecessors. I think there is no alternative but to rank him as the worst president in U.S. history."

Alguém consegue encontrar Carter aqui no meio?

Unknown disse...

Caro STran, não se admire se quando lhe cheira a pão, há um padeiro por perto. O autor desse artigo é Eric Foner, conhecido pelo seu radicalismo esquerdista. O Carter não estará nunca no seu radar.

O Daniel Pipes topa-o à légua Profs que odeiam a América

Se você come palha, meu caro, não se admire que lhe saiba a palha.

Anónimo disse...

Então vá ver outros rankings se quiser e depois comente...

Anónimo disse...

Já de há certo tempo, o suficiente, se sabe que o Chomsky é um dos prendados pensadores/assessores do Grupo Bilderberg.
Como é possível levar-se ainda a sério este provecto linguista/ideólogo da sinistra organização?

Ennia