Foi ontem dia 7 atribuído o prémio Erasmus ao publicista anglo-holandês Ian Buruma. Segundo a fundação que atribui o prémio, Stichting Praemium Erasmianum, o premiado corresponde perfeitamente ao tema deste ano: O Novo Cosmopolita. Estudou chinês em Leiden e filme em Tóquio, foi redactor do The Far Eastern Economic Revieuw e do Spectator e é desde 2003 professor catedrático de democracia, direitos humanos e jornalística no Bard College em nova Iorque.
Aqui temos um artigo que ele escreveu em 2003, e que foi publicado no New York Times e no NRC de Roterdão no mesmo ano. Eu já tinha traduzido e publicado este texto há uns tempos atrás (não me consigo lembrar quando!) no Triunfo dos Porcos, mas na minha opinião ainda não perdeu actualidade.
P.S. A meio do texto não se esqueçam de carregar no link “agit-prop”, verão um documentário em 9 fascículos na YouTube do ex-agente da KGB Yuri Bezmenov sobre a estratégia de subversão soviética: a não perder. Os vídeos, graças aos Jovens Democratas de Belo Horizonte, foram legendados em português.
Ian Buruma
Vejamos o que diz por exemplo Gore Vidal, o mais famoso ensaísta americano, que em meios de esquerda, sobretudo na Europa, passa pelo crítico mais progressista da política dos Estados Unidos. À pergunta, de que forma os Iraquianos se poderiam libertar de Saddam Hussein sem intervenção americana, respondeu ele há pouco: “Isso é o problema deles, não é o seu problema nem tão pouco o meu. O Mundo está cheio de maus regimes, e um deles é o regime de Bush”. E acerca da Coreia do Norte: “Pfff, as pessoas na Coreia vão continuar a morrer de fome. Pelo menos é o que diz a nossa imprensa”. E segue-se um ataque aos média americanos.
É evidente que há críticas a fazer à imprensa americana, e também àquilo que Vidal designa de “Junta Bush-Cheney”. Mas as afirmações de Gore Vidal revelam uma curiosa falta de proporções, como se Bush e Saddam se pudessem medir pela mesma bitola, ou então, que as atrocidades na Coreia do Norte, sejam baseadas na propaganda americana. E mesmo que não seja assim, não é o nosso problema, para quê ralarmo-nos? Isto é de certa maneira sintomático de muitas opiniões que passam por ser de esquerda ou progressistas. Criticar o Ocidente, nomeadamente os EUA, é fácil, mas quando se trata de ditadores não-ocidentais, neste caso muita boa gente embatuca. Porquê? Eu penso que isto se deve a um virulento e preponderante anti-americanismo, que conduz certas pessoas a uma forma de paralisia moral quando se trata de regimes sanguinários fora da esfera ocidental.
O anti-americanismo – e com isto não me refiro à crítica da política dos EUA, mas sim a um profundo sentimento de repugnância – tem uma longa história, em que na realidade a Direita teve uma maior contribuição do que a Esquerda. Aos olhos de defensores da cultura de antes da Guerra do tipo Evelyn Waugh, os Estados Unidos eram um país reles, só interessado em dinheiro, sem raízes, inculto e de mau gosto – resumindo, um perigo para a superior Cultura Europeia.
Martin Heidegger também tinha críticas em relação ao ‘Americanismo’, como sendo sem alma, interesseiro, um poder falso, com uma influência funesta sobre o espírito europeu. Para a extrema direita, a combinação de capitalismo, democracia e falta de homogeneidade étnica era totalmente incompatível com aquilo a que ela achava de mais sublime: pureza de raça, disciplina militar e respeito pela autoridade.
Mas o que está agora na moda em relação aos EUA, era no passado visto em relação à Inglaterra. No século dezoito e dezanove, tanto os reaccionários, como os românticos radicais da Europa continental, denunciavam a sociedade inglesa onde só o reles lucro contava. Londres era vista como uma cidade sem alma, uma cidade de banqueiros e jogadores na bolsa, que na sua sede de fortuna exploravam os pobres. O Imperialismo Britânico, diferentemente da Mission Civilisatrice francesa ou do expandir da Kultur alemã, era visto como uma empresa comercial, que apenas aspira a alargar o seu poderio económico e financeiro. Mas o pior de tudo, aos olhos de alguns, era a relativa mestiçagem da população Britânica. Veja-se o que opina o racista britânico Houston Stewart Chamberlain na presença de Guilherme II, seu protector: qualquer ‘Basuto-nikker’ com uma bolsa repleta, pode adquirir o estatuto de cidadão Britânico. Talvez a coisa não fosse bem assim, mas é sintomático.
O ódio visceral da Esquerda, em relação ao capitalismo anglo-saxónico, remonta pelo menos até Karl Marx, mas a passagem de anglofobia e anti-americanismo de direita, para a sua variante de esquerda, só se faz sentir depois da segunda Grande Guerra. Sem dúvida que isto se deve, em grande parte, à agit-prop soviética, e sobretudo à tradição anti-fascista que os russos bem souberam explorar. O capitalismo anglo-americano era, na propaganda soviética, directamente conectado com fascismo e apresentado como o grande inimigo dos povos explorados da Terra. Quem fosse de esquerda, era indubitavelmente a favor dos movimentos de libertação do Terceiro Mundo. Nem todos os partidários de Mao, Castro ou Ho Chi Minh eram pro-soviéticos, mas todos eles eram anti-americanos.
Quando muitos países se libertaram do jugo colonial, passaram rapidamente da alegria pela liberdade obtida para a chacina em larga escala. Instalaram ditaduras, umas com o apoio de Moscovo e outras de Washington. Na China, em África e no Sudeste-Asiático milhões de pessoas foram assassinadas, mortas à fome e saneadas pelos seus ‘libertadores’. Os ditadores do campo americano – Suharto e Pinochet – foram denunciados pela Esquerda, mas em relação aos protegidos dos soviéticos arranjavam-se sempre justificações.
Mas no fim dos anos oitenta já não havia no Ocidente muita gente de esquerda a defender a União-Soviética, ou com muita simpatia por revoluções violentas no Terceiro Mundo. Ainda estava muita fresca na memória a Revolução Cultural na China, os Killing Fields de Pol Pot e os refugiados Vietnamitas fugindo de barco. Isto era uma fonte de mal-estar silencioso. Na sequência de 1989 (queda do muro de Berlim) as promessas de Socialismo começaram a murchar. Mas uma coisa ficou: o anti-americanismo.
Hoje em dia o anti-americanismo até talvez se tenha tornado ainda mais virulento do que durante o período da guerra-fria. É um fenómeno conhecido: quando os anjos não conseguem fazer o que prometem, os diabos tornam-se ainda mais diabólicos. Neste caso o desmoronamento do Socialismo não fez que aumentar a dor de cotovelo em relação aos triunfos dos americanos. Mas ao mesmo tempo, dá-se outro fenómeno interessante. A Esquerda e a Direita começaram, curiosamente, a mudar de campo.
A expansão do capitalismo à escala mundial, sem dúvida com consequências negativas, fez com que os representantes da esquerda se tornassem defensores de cultura e política nacionalista. No tempo em que o marxismo ainda era uma ideologia poderosa, a Esquerda esforçava-se por encontrar soluções universais para os sofrimentos do Mundo. Actualmente, é, “globalização”, uma outra palavra para designar o que Heidegger chamava de “americanismo”, um atentado à cultura e identidade indígena. E desta forma, a velha Esquerda vai-se transformando gradualmente num bloco conservador.
Esta defesa da autenticidade cultural ganha forma de anti-imperialismo, e nos dias que correm, isto é evidentemente a mesma coisa que anti-americanismo. Israel desempenha aqui um papel preponderante, porque Israel é visto como um instrumento do imperialismo americano no Médio-Oriente, e como o inimigo colonial do nacionalismo palestino.
Israel e os Estados Unidos estimulam com uma tal intensidade o complexo de culpa colonial da Europa, que praticamente nada há que se lhe possa contrapor.
A política de Israel, assim como a dos EUA, é frequentemente errada, e algumas vezes até deplorável, mas mesmo que a política de ambos fosse sempre correcta, Israel seria sempre odiado como um intruso ocidental em território Árabe. Em relação a isto o anti-sionismo de hoje soa da mesma maneira que os velhos arabistas rabugentos da escola do Ministério dos Negócios Estrangeiros Britânico: que de socialismo nem sequer queriam ouvir falar. O actual fenómeno que consiste em comparar Judeus com Nazis, frequente hoje em dia, é ouro sobre azul para o complexo de culpa da Europa acerca de mais uma nódoa terrível na nossa consciência colectiva.
A paralisia moral da Esquerda, em relação a ditadores não-ocidentais, poderia ter também uma origem mais sinistra. O filósofo israelita Avishai Margalit chama-lhe “racismo moral”. Quando os indianos matam muçulmanos, africanos outros africanos ou árabes matam árabes, os sapientíssimos comentadores ocidentais fazem de conta que não é nada com eles, ou encontram justificações históricas, ou então dão as culpas dos massacres às dores de parto do colonialismo.
Mas quando brancos, sejam eles americanos, europeus, sul-africanos ou israelitas, fazem algo de mal a pessoas de cor, então aí temos o caldo entornado. Quem comparar as notícias dos acontecimentos na Palestina com as informações bem mais trágicas sobre a Libéria ou a África Central, dá-se rapidamente conta de uma desproporção que supõem outros critérios morais vigentes para povos não-ocidentais. Podemos aceitar isto como correcto, porque nós apenas podemos acarretar com a responsabilidade da nossa gente. Mas isto implica uma visão assaz racista do mundo.
Também neste caso a Esquerda e a Direita parecem terem trocado de campo. Desde longa data que a Direita Conservadora nunca teve uma vocação internacionalista, e muito menos revolucionária. Fazer negócio, estabilidade, os interesses nacionais e ‘Real Politik’ (são uns cabrões, mas são os nossos cabrões) sempre foi a norma. Democracia era, segundo conservadores realistas, uma coisa boa para nós, mas não para povos estranhos com nomes exóticos. A Esquerda, ao contrário, queria transformar o mundo, seja onde for. O internacionalismo de esquerda não reconhecia fronteiras culturais nem nacionais. Para eles libertação era um projecto universal. E agora que a “Junta Bush-Cheney” clama a revolução democrática, independentemente de cultura, cor ou religião, afirma o Gore Vidal que nada temos a ver com o assunto, outros há que gritam de ‘racismo’.
Tudo isto é evidentemente uma questão retórica. É bem possível que Paul Wolfowitz, o Secretário de Estado da Defesa americana, sinceramente acredite em revoluções democráticas, mas não é muito certo que os colegas mais conservadores do Governo Bush pretendam atingir fins em vista tão radicais. De qualquer forma é interessante observar quem os neo-conservadores de Washington conseguiram converter totalmente às suas ideias, ou pelo menos no que diz respeito à guerra contra Saddam Hussein. Um dos mais entusiastas jornalista a favor da Guerra de Bush foi Christopher Hitchens. Tendo em conta que ele, aliás como vários neo-conservadores americanos, têm um passado Trotskista, é, até certo ponto, consequente o facto de ele apoiar projectos revolucionários. Por outro lado, enviar o exército americano é uma estranha forma de promover uma revolução democrática.
Muito importante foi o apoio que Bush recebeu de Vaclav Havel, Adam Michnik e sobretudo de José Ramos Horta o prémio Nobel da Paz. Isto são homens, ao contrário dos comentadores em Londres ou Nova Iorque, que sabem o que é viver debaixo do jugo da ditadura. Eles pagaram um preço bem alto por ter tido opiniões divergentes, num momento em que isso era uma questão de vida ou de morte. Vaclav Havel e Adam Mischnik viveram no seio do Imperialismo Soviético, mas o senhor Ramos Horta é um caso interessante, porque ele resistiu ao regime Indonésio do General Suharto que tinha o apoio dos EUA. E Timor-Leste era um tema favorito de Chomsky e outros esquerdistas americanos.
Num artigo publicado pouco tempo antes do início da Guerra do Iraque, Ramos Horta lembrava o sofrimento do seu povo. Escrevia: ‘Não há praticamente no meu país uma família que não tivesse perdido um familiar. Muitas famílias foram dizimadas durante a longa ocupação e resistência à Indonésia. O Ocidente contribuiu para esta tragédia. Alguns são directamente responsáveis porque apoiaram a Indonésia com material militar’. Até aqui nenhum dos nossos críticos de esquerda deve estar em desacordo com Ramos Horta, mas a conclusão que ele tira faz a ruptura. Ramos Horta conclui que o Ocidente ‘redime’ a culpa que teve, ao libertar, de armas na mão, Timor-Leste dos seus opressores. Então porque razão é que os Iraquianos não podem ser também libertados?
Ramos Horta respeita os motivos que as pessoas possam ter para se manifestarem contra a Guerra, mas ao mesmo tempo pergunta, porque razão é que em todas essas manifestações ele nunca ‘viu um cartaz ou ouviu um discurso, onde se tivesse feito um apelo para acabar com as violações dos direitos humanos no Iraque, ou substituir o ditador e conceder a liberdade aos Iraquianos e aos Curdos’. Ele sabe que ‘diferenças de opinião e um debate público sobre uma questão de guerra e de paz são essenciais. Nós temos actualmente direito de manifestação e de livre expressão – o que durante 25 anos de terror nunca foi possível – porque Timor-Leste é hoje uma democracia independente. Felizmente para todos nós, que nesta época de globalização, os cidadãos em quase todas as questões importantes têm direito à palavra. Mas se o movimento contra a guerra conseguir que os Estados Unidos e os seus aliados desistam da guerra contra o Iraque, então eles contribuíram para a paz dos mortos’.
Não é obrigatório estar de acordo com esta afirmação. Mas ela tem uma autoridade moral, que em regra geral carece no conteúdo da polémica daqueles que fundamentalmente são contra uma intervenção dos Estados Unidos. Ramos Horta, apresenta uma visão da questão que exige uma resposta. À excepção daqueles que pensam que as pessoas que vivem nos confins do mundo deviam resolver pessoalmente os seus problemas, que pensam que não é nosso dever libertá-los de tiranos, e que cada tentativa nesse sentido é por definição inspirada por motivos racistas, coloniais ou financeiros.
Talvez seja este o ponto de vista mais pragmático, ver mesmo o mais realista. Mas quem defender esta visão, deveria ter pelo menos a honestidade de se assumir como conservador, à la Henry Kissinger, e não falar mais em nome da esquerda progressista.
Vejamos o que diz por exemplo Gore Vidal, o mais famoso ensaísta americano, que em meios de esquerda, sobretudo na Europa, passa pelo crítico mais progressista da política dos Estados Unidos. À pergunta, de que forma os Iraquianos se poderiam libertar de Saddam Hussein sem intervenção americana, respondeu ele há pouco: “Isso é o problema deles, não é o seu problema nem tão pouco o meu. O Mundo está cheio de maus regimes, e um deles é o regime de Bush”. E acerca da Coreia do Norte: “Pfff, as pessoas na Coreia vão continuar a morrer de fome. Pelo menos é o que diz a nossa imprensa”. E segue-se um ataque aos média americanos.
É evidente que há críticas a fazer à imprensa americana, e também àquilo que Vidal designa de “Junta Bush-Cheney”. Mas as afirmações de Gore Vidal revelam uma curiosa falta de proporções, como se Bush e Saddam se pudessem medir pela mesma bitola, ou então, que as atrocidades na Coreia do Norte, sejam baseadas na propaganda americana. E mesmo que não seja assim, não é o nosso problema, para quê ralarmo-nos? Isto é de certa maneira sintomático de muitas opiniões que passam por ser de esquerda ou progressistas. Criticar o Ocidente, nomeadamente os EUA, é fácil, mas quando se trata de ditadores não-ocidentais, neste caso muita boa gente embatuca. Porquê? Eu penso que isto se deve a um virulento e preponderante anti-americanismo, que conduz certas pessoas a uma forma de paralisia moral quando se trata de regimes sanguinários fora da esfera ocidental.
O anti-americanismo – e com isto não me refiro à crítica da política dos EUA, mas sim a um profundo sentimento de repugnância – tem uma longa história, em que na realidade a Direita teve uma maior contribuição do que a Esquerda. Aos olhos de defensores da cultura de antes da Guerra do tipo Evelyn Waugh, os Estados Unidos eram um país reles, só interessado em dinheiro, sem raízes, inculto e de mau gosto – resumindo, um perigo para a superior Cultura Europeia.
Martin Heidegger também tinha críticas em relação ao ‘Americanismo’, como sendo sem alma, interesseiro, um poder falso, com uma influência funesta sobre o espírito europeu. Para a extrema direita, a combinação de capitalismo, democracia e falta de homogeneidade étnica era totalmente incompatível com aquilo a que ela achava de mais sublime: pureza de raça, disciplina militar e respeito pela autoridade.
Mas o que está agora na moda em relação aos EUA, era no passado visto em relação à Inglaterra. No século dezoito e dezanove, tanto os reaccionários, como os românticos radicais da Europa continental, denunciavam a sociedade inglesa onde só o reles lucro contava. Londres era vista como uma cidade sem alma, uma cidade de banqueiros e jogadores na bolsa, que na sua sede de fortuna exploravam os pobres. O Imperialismo Britânico, diferentemente da Mission Civilisatrice francesa ou do expandir da Kultur alemã, era visto como uma empresa comercial, que apenas aspira a alargar o seu poderio económico e financeiro. Mas o pior de tudo, aos olhos de alguns, era a relativa mestiçagem da população Britânica. Veja-se o que opina o racista britânico Houston Stewart Chamberlain na presença de Guilherme II, seu protector: qualquer ‘Basuto-nikker’ com uma bolsa repleta, pode adquirir o estatuto de cidadão Britânico. Talvez a coisa não fosse bem assim, mas é sintomático.
O ódio visceral da Esquerda, em relação ao capitalismo anglo-saxónico, remonta pelo menos até Karl Marx, mas a passagem de anglofobia e anti-americanismo de direita, para a sua variante de esquerda, só se faz sentir depois da segunda Grande Guerra. Sem dúvida que isto se deve, em grande parte, à agit-prop soviética, e sobretudo à tradição anti-fascista que os russos bem souberam explorar. O capitalismo anglo-americano era, na propaganda soviética, directamente conectado com fascismo e apresentado como o grande inimigo dos povos explorados da Terra. Quem fosse de esquerda, era indubitavelmente a favor dos movimentos de libertação do Terceiro Mundo. Nem todos os partidários de Mao, Castro ou Ho Chi Minh eram pro-soviéticos, mas todos eles eram anti-americanos.
Quando muitos países se libertaram do jugo colonial, passaram rapidamente da alegria pela liberdade obtida para a chacina em larga escala. Instalaram ditaduras, umas com o apoio de Moscovo e outras de Washington. Na China, em África e no Sudeste-Asiático milhões de pessoas foram assassinadas, mortas à fome e saneadas pelos seus ‘libertadores’. Os ditadores do campo americano – Suharto e Pinochet – foram denunciados pela Esquerda, mas em relação aos protegidos dos soviéticos arranjavam-se sempre justificações.
Mas no fim dos anos oitenta já não havia no Ocidente muita gente de esquerda a defender a União-Soviética, ou com muita simpatia por revoluções violentas no Terceiro Mundo. Ainda estava muita fresca na memória a Revolução Cultural na China, os Killing Fields de Pol Pot e os refugiados Vietnamitas fugindo de barco. Isto era uma fonte de mal-estar silencioso. Na sequência de 1989 (queda do muro de Berlim) as promessas de Socialismo começaram a murchar. Mas uma coisa ficou: o anti-americanismo.
Hoje em dia o anti-americanismo até talvez se tenha tornado ainda mais virulento do que durante o período da guerra-fria. É um fenómeno conhecido: quando os anjos não conseguem fazer o que prometem, os diabos tornam-se ainda mais diabólicos. Neste caso o desmoronamento do Socialismo não fez que aumentar a dor de cotovelo em relação aos triunfos dos americanos. Mas ao mesmo tempo, dá-se outro fenómeno interessante. A Esquerda e a Direita começaram, curiosamente, a mudar de campo.
A expansão do capitalismo à escala mundial, sem dúvida com consequências negativas, fez com que os representantes da esquerda se tornassem defensores de cultura e política nacionalista. No tempo em que o marxismo ainda era uma ideologia poderosa, a Esquerda esforçava-se por encontrar soluções universais para os sofrimentos do Mundo. Actualmente, é, “globalização”, uma outra palavra para designar o que Heidegger chamava de “americanismo”, um atentado à cultura e identidade indígena. E desta forma, a velha Esquerda vai-se transformando gradualmente num bloco conservador.
Esta defesa da autenticidade cultural ganha forma de anti-imperialismo, e nos dias que correm, isto é evidentemente a mesma coisa que anti-americanismo. Israel desempenha aqui um papel preponderante, porque Israel é visto como um instrumento do imperialismo americano no Médio-Oriente, e como o inimigo colonial do nacionalismo palestino.
Israel e os Estados Unidos estimulam com uma tal intensidade o complexo de culpa colonial da Europa, que praticamente nada há que se lhe possa contrapor.
A política de Israel, assim como a dos EUA, é frequentemente errada, e algumas vezes até deplorável, mas mesmo que a política de ambos fosse sempre correcta, Israel seria sempre odiado como um intruso ocidental em território Árabe. Em relação a isto o anti-sionismo de hoje soa da mesma maneira que os velhos arabistas rabugentos da escola do Ministério dos Negócios Estrangeiros Britânico: que de socialismo nem sequer queriam ouvir falar. O actual fenómeno que consiste em comparar Judeus com Nazis, frequente hoje em dia, é ouro sobre azul para o complexo de culpa da Europa acerca de mais uma nódoa terrível na nossa consciência colectiva.
A paralisia moral da Esquerda, em relação a ditadores não-ocidentais, poderia ter também uma origem mais sinistra. O filósofo israelita Avishai Margalit chama-lhe “racismo moral”. Quando os indianos matam muçulmanos, africanos outros africanos ou árabes matam árabes, os sapientíssimos comentadores ocidentais fazem de conta que não é nada com eles, ou encontram justificações históricas, ou então dão as culpas dos massacres às dores de parto do colonialismo.
Mas quando brancos, sejam eles americanos, europeus, sul-africanos ou israelitas, fazem algo de mal a pessoas de cor, então aí temos o caldo entornado. Quem comparar as notícias dos acontecimentos na Palestina com as informações bem mais trágicas sobre a Libéria ou a África Central, dá-se rapidamente conta de uma desproporção que supõem outros critérios morais vigentes para povos não-ocidentais. Podemos aceitar isto como correcto, porque nós apenas podemos acarretar com a responsabilidade da nossa gente. Mas isto implica uma visão assaz racista do mundo.
Também neste caso a Esquerda e a Direita parecem terem trocado de campo. Desde longa data que a Direita Conservadora nunca teve uma vocação internacionalista, e muito menos revolucionária. Fazer negócio, estabilidade, os interesses nacionais e ‘Real Politik’ (são uns cabrões, mas são os nossos cabrões) sempre foi a norma. Democracia era, segundo conservadores realistas, uma coisa boa para nós, mas não para povos estranhos com nomes exóticos. A Esquerda, ao contrário, queria transformar o mundo, seja onde for. O internacionalismo de esquerda não reconhecia fronteiras culturais nem nacionais. Para eles libertação era um projecto universal. E agora que a “Junta Bush-Cheney” clama a revolução democrática, independentemente de cultura, cor ou religião, afirma o Gore Vidal que nada temos a ver com o assunto, outros há que gritam de ‘racismo’.
Tudo isto é evidentemente uma questão retórica. É bem possível que Paul Wolfowitz, o Secretário de Estado da Defesa americana, sinceramente acredite em revoluções democráticas, mas não é muito certo que os colegas mais conservadores do Governo Bush pretendam atingir fins em vista tão radicais. De qualquer forma é interessante observar quem os neo-conservadores de Washington conseguiram converter totalmente às suas ideias, ou pelo menos no que diz respeito à guerra contra Saddam Hussein. Um dos mais entusiastas jornalista a favor da Guerra de Bush foi Christopher Hitchens. Tendo em conta que ele, aliás como vários neo-conservadores americanos, têm um passado Trotskista, é, até certo ponto, consequente o facto de ele apoiar projectos revolucionários. Por outro lado, enviar o exército americano é uma estranha forma de promover uma revolução democrática.
Muito importante foi o apoio que Bush recebeu de Vaclav Havel, Adam Michnik e sobretudo de José Ramos Horta o prémio Nobel da Paz. Isto são homens, ao contrário dos comentadores em Londres ou Nova Iorque, que sabem o que é viver debaixo do jugo da ditadura. Eles pagaram um preço bem alto por ter tido opiniões divergentes, num momento em que isso era uma questão de vida ou de morte. Vaclav Havel e Adam Mischnik viveram no seio do Imperialismo Soviético, mas o senhor Ramos Horta é um caso interessante, porque ele resistiu ao regime Indonésio do General Suharto que tinha o apoio dos EUA. E Timor-Leste era um tema favorito de Chomsky e outros esquerdistas americanos.
Num artigo publicado pouco tempo antes do início da Guerra do Iraque, Ramos Horta lembrava o sofrimento do seu povo. Escrevia: ‘Não há praticamente no meu país uma família que não tivesse perdido um familiar. Muitas famílias foram dizimadas durante a longa ocupação e resistência à Indonésia. O Ocidente contribuiu para esta tragédia. Alguns são directamente responsáveis porque apoiaram a Indonésia com material militar’. Até aqui nenhum dos nossos críticos de esquerda deve estar em desacordo com Ramos Horta, mas a conclusão que ele tira faz a ruptura. Ramos Horta conclui que o Ocidente ‘redime’ a culpa que teve, ao libertar, de armas na mão, Timor-Leste dos seus opressores. Então porque razão é que os Iraquianos não podem ser também libertados?
Ramos Horta respeita os motivos que as pessoas possam ter para se manifestarem contra a Guerra, mas ao mesmo tempo pergunta, porque razão é que em todas essas manifestações ele nunca ‘viu um cartaz ou ouviu um discurso, onde se tivesse feito um apelo para acabar com as violações dos direitos humanos no Iraque, ou substituir o ditador e conceder a liberdade aos Iraquianos e aos Curdos’. Ele sabe que ‘diferenças de opinião e um debate público sobre uma questão de guerra e de paz são essenciais. Nós temos actualmente direito de manifestação e de livre expressão – o que durante 25 anos de terror nunca foi possível – porque Timor-Leste é hoje uma democracia independente. Felizmente para todos nós, que nesta época de globalização, os cidadãos em quase todas as questões importantes têm direito à palavra. Mas se o movimento contra a guerra conseguir que os Estados Unidos e os seus aliados desistam da guerra contra o Iraque, então eles contribuíram para a paz dos mortos’.
Não é obrigatório estar de acordo com esta afirmação. Mas ela tem uma autoridade moral, que em regra geral carece no conteúdo da polémica daqueles que fundamentalmente são contra uma intervenção dos Estados Unidos. Ramos Horta, apresenta uma visão da questão que exige uma resposta. À excepção daqueles que pensam que as pessoas que vivem nos confins do mundo deviam resolver pessoalmente os seus problemas, que pensam que não é nosso dever libertá-los de tiranos, e que cada tentativa nesse sentido é por definição inspirada por motivos racistas, coloniais ou financeiros.
Talvez seja este o ponto de vista mais pragmático, ver mesmo o mais realista. Mas quem defender esta visão, deveria ter pelo menos a honestidade de se assumir como conservador, à la Henry Kissinger, e não falar mais em nome da esquerda progressista.
10 comentários:
O antiamericanismo é pura e simplesmente uma inveja encapotada que a esquerda tem do inegável sucesso tecnológico, científico e civilizacional da nação americana.
Qual esquerda? onde direita? (e o muito mais confuso) centro?. São definições que não compreendo. Há quem diga que "Obama" é de esquerda, "Bush" de direita, falamos de um fenómeno fisiológico? um é canhoto, outro não? e o centro?! será o pénis?!. Espero que alguém me ajude a compreender este tão estranho fenómeno, estou confuso gostaria de escolher um dos lados, escrevo com a mão direita, mas também me ajeito com a esquerda. PS: Sou um jovem rapaz do passado pouco sei. Espero resposta, e como o senhor C.R. é entendido da matéria, ajude-me.
Senhor C.R. primeiro que tudo, obrigado pela resposta. Continuo confuso em relação á questão "esquerda" "direita", a minha pergunta (como escrevo à toa) desculpe mas não foi por mim muito bem definida no seu contexto. Vou tentar. Ser de esquerda, é ser mau?! e de direita bom?!, neste blog há uma clara tendência a qualificar os de esquerda como maus, porque?, entre a malta da minha idade quando nos referimos a alguém (ou a grupos) maus, ou bons, é porque os conhecemos pessoalmente, ou são mesmo maus fuleirões, ou bons, quando são mesmo fixes. Como neste blog nunca se referem a alguém de direita que seja mau, significa que nesse caso esses são bons? isto é, fixes?. Senhor C.R. ajude-me, continuo confuso. Obrigado
"Ser de esquerda, é ser mau?! e de direita bom"
Meu caro, a doutrina politicamente correcta em vigor na Europa, prescreve exactamente o contrário.~
A generalidade das pessoas, mesmo sem ter a mínima ideia da ideologia, associa "socialismo" a uma coisa "boa", "direita" a uma coisa "má", "esquerda" a "boas intenções", etc.
Isto é, inegavelmente uma grande vitória do condicionamento mental produzido por uma certa “intelectualidade de esquerda”.
Porque se formos ver bem, todos os nossos valores, linguagem e conceitos dizem que direita significa, instintivamente, o que está certo:
Deus escreve direito por linhas tortas; o filho está sentado à direita do pai; um homem sério é um homem às direitas; uma coisa que está bem, está direita; à pessoa que nos ajuda mais chamamos "braço direito"; a esquerda diz-se em italiano (e latim) “sinistra”, e sinistro é um adjectivo negativamente conotado; os muçulmanos limpam o rabo com a mão esquerda; as maiores chacinas de sempre, estão relacionadas com a esquerda (Hitler, Estaline, Mao, Pol-Pot,etc). A miséria idem.
Na minha modesta opinião, a esquerda é a indigência intelectual, a cafrealização do estilo, o caceteirismo moral e a autofagia, que esquece o seu passado, maldiz o presente e agoira o futuro.
A direita é projecto, a esquerda contra-projecto.
A direita é construção, a esquerda mera quixotad e afirma-se apenas pela discordância, pela negação, pela crítica. É , no plano dialético, uma mera contracultura, muito menos que uma escola ou uma doutrina.
Penso eu de que.
Sr. C.R. Posso concluir pela sua resposta, sendo o senhor um "cota" a rondar a idade do "cota" aqui de casa, "meu pai", de que ambos quando jovens tiveram que passar pela (velha) experiência, esquerda, para mais tarde justificar a "nova" experiência de,.. quê? o novo iluminismo? um amigo meu tem a mania de se referir ao nosso futuro- "neonluminismo, porque as coisas estão a ficar muito escuras". Para não fugir ao raciocínio, a experiência da esquerda não serviu. E agora?!. PS: O, C.R. é um marotão quando diz ter 26 anos, num poste seu, li que se tinha pirado por causa da guerra nas antigas colónias. Um senhor que é um ganda LIDADOR é muito mais afirmativo nos seus (eu é que sei) comentários. O Sr. C.R. tem sido até agora impecável nas suas reacções, (apesar da peta da idade) "nunca afirmou que". O PATERNAL-LIDADOR, ataca com espada e escudo na luta pela,.. "liberdade é comigo" apresenta uma lista de maus de esquerda, onde junta o HITLER, o "cota" cá de casa nem queria acreditar!- (é pá!o rapaz devia tar a digitar com a espada na mão, e o dedo escorregou!). Todo o que é mau limpa o cu com a esquerda! e os bons com a direita! eureka! afinal o cota cá de casa tem razão! o lidador digita mesmo de espada na mão,DIREITA.
"junta o HITLER, o "cota" cá de casa nem queria acreditar!- "
POis não, a esquerda não gosta de se assoar com os lenços que sujou.
Hitler, meu caro, era o Secreário geral do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores alemães. Escreveu coisas como "estamos a combater o capitalismo" e garantiu que "Aprendi muito com o marxismo e não tenciono escondê-lo. O que me interessou no marxismo foram os seus métodos….todo o nacional-socialismo está lá contido”
E explicou que "os meus desacordos com os comunistas são menos ideológicos que tácticos” e "agora que a idade do individualismo terminou, a nossa tarefa é encontrar o caminho que conduza ao socialismo”.
Não lhe parece suficientemente de esquerda?
Então e se lhe disser que o Programa do seu Partido Socialista continha 80% das medidas preconizadas no Manifesto Comunista?
Vá lá, meu caro, abra os olhos. Ainda não entendeu que até o Mussolini era da ala esquerda do Partido Socialista Italiano e que o seu "fascismo" se definia como "tudo pelo Estado, nada contra o Estado"?
Catalogar esta gente de "direita" é uma conveniência. É como dizer que o "estalinismo" não era o "verdadeiro socialismo".
Caro LIDADOR. Sou um jovem onde a experiência não existe, o passado é ainda pequenino, só sei que estou de portas abertas para o futuro. Não tenho relação alguma com qualquer grupo politico o meu grupo cá no bairro, é a malta, (os mens) o XICO FINO, o BACALHAU, o MANELINHO, o BUBA, o MARRECO, o DÓTOR, e muita mais malta. Nas nossas relações não existe pretos, brancos, vermelhos, amarelos, ou qualquer uma outra cor. Não há esquerda, centro, nem direita. Não somos estúpidos, e questionamos a nossa existência onde logicamente está englobada a parte politica, quando questionamos algumas decisões governa-mentais, não falamos das cores, mas sim da finalidade, ou não delas. Podemos ser jovens indocumentados, à procura de respostas, a única coisa que eu, e os meus amigos não admitimos são verdades absolutas! o absoluto não existe!, visto isso dialogamos. Era nesta fase que eu me encontrava com o corretíssimo "Sr. Carmo da Rosa", o senhor "PATERNAL-LIDADOR" apareceu e cagou a pata toda! o meu pai, a quem eu ternamente chamo de, "cota cá de casa" diz que o senhor não está muito bem na sua pele, o meu cota cá de casa, é mesmo fixe. Espero que possamos dialogar. PS: O que o Hitler foi antes de ser, não é para nós importante, o que foi, sim! UM IMPORTANTÍSSIMO MONSTRO.
Grande Carmo, grande..
"Sou um jovem onde a experiência não existe"
Ya, meu, tasse bem, mas na verdade estou-me cagando para o que tu és ou deixas de ser. Essa cena de andares a falar de ti é fatela como o caraças,.
"o passado é ainda pequenino"
Só o passado, man? Man , tu és mas é um cócó, pequenino sobretudo nessa cena acima dos ombros, tás a ver?
"só sei que estou de portas abertas para o futuro"
Na boa, man. Perna aberta, espectacular, ah e tal, cena curtida brother.
" Não somos estúpidos"
Tipo, precisas de dizer que não és aquilo que és, tasse bem man, a malta entende, e não sei quê.
" não admitimos são verdades absolutas! o absoluto não existe!"
Ok, man, experimenta atirar-te de um prédio abaixo e verás se não é absolutamente verdade que te despencas lá em baixo e não sei quê, man.
" visto isso dialogamos."
Tipo esta cena diálogo tasse bem,e tal, e não sei quê?
" o meu pai, a quem eu ternamente chamo de, "cota cá de casa" diz"
Man, ninguém te perguntou pela família, está-se tudo nas tintas para os teus problemas familiares, man, guarda essa cena para ti e tal. O pagode não quer saber se comeste feijão ao almoço, ou a côr das cuecas do teu cota, tá bem, ó kandengue?
"O que o Hitler foi antes de ser, não é para nós importante, o que foi, sim! UM IMPORTANTÍSSIMO MONSTRO."
Na boa man, claro que foi isso, mas sabes porquÊ? Porque era socialista. Tás a ver, kandengue, um cão morde porque pode, quer e sabe, isto e, tem dentes, quer ferrar e sabe como.
Sem algumas dessas coisas, não mordia, man.
Agora a cena do socialista já não te interessa, man, mas foste tu achaste disparatado dizer que o Adolfo era de esquerda, e tal.
E quanto ao teu cota, fica-te com este novo provérbio: quem feio ama, pouco acerta.
Óh Sr. Carmo. Eu e os "mens" cá do bairro
ficámos impressionados com a sua performance linguística. Não é descriminar, mas, o bairro onde a língua se solta dessa maneira, é outro. Não vou ter muito tempo, (estudos) a matéria é pesada. Não misture, joanas com vinho, a pancada é muita louca. Se o Hitler não tivesse o quê!?, TERIA SIDO UM GANDA PRESIDENTE!!!!????. ÓH! ÓH! o que está entre o.....foi,....e.....é.....,é que fez o homem!. A obra foi feita pelas suas mãos, o estudo pela sua cabeça, só ele! e mais ninguém! é responsável!. A minha família é judaica, o cota cá de casa, tinha algures muita família (TINHA!). O meu pai não utiliza (á minha frente) linguagem ordinária mas desta vez, disse! - CARALHO! ACABA COM ESTA MÉRDA! COM COISAS SÉRIAS NÃO SE BRINCA!. C.R. você é fixe, cuidado! cuidado!. Este é o meu ultimo poste. PS: Os meus amigos e eu não temos nem piercings, nem tatuagens, é foleiro.
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