Não consegui resistir à vaidade e, de ego lustroso, aceitei o convite que me dirigiu o pessoal do Fiel Inimigo para integrar o seu quartel-general. Convite esse, porém, que me apanhou em plena crise de disponibilidade de tempo, com possíveis tréguas só lá para meados de Janeiro. Pelo que, até essa data, tentarei ser simultaneamente o mais claro e o mais sucinto possível, tanto no que respeita à abordagem dos temas como nas respostas aos (eventuais) comentários. E, para começar, gostaria de fazer notar o seguinte, a propósito do despropósito que por aí vai no que respeita à educação:
A equipa ministerial justifica a sua insistência na - e em especial nesta - avaliação dos docentes com a necessidade de, a bem dos alunos, melhorar a qualidade do ensino. A legislação referente ao processo prevê, contudo, que o professor venha a recusar ser avaliado, o que terá como consequência não progredir na carreira e nada mais.
Daqui decorre, naturalmente, que o professor poderá ser medíocre ou mesmo mau e permanecer na escola, tendo como única penalização continuar a receber o mesmo salário, sem que o Ministério, ao que parece, se preocupe a partir desse momento com a qualidade do ensino que receberão os seus amados alunos.
Torna-se evidente que se a verdadeira intenção do Governo fosse aquela que propala ao país através das bocas acéfalas e famintas dos"órgãos de comunicação social", nenhum professor poderia recusar a avaliação sob pena de ser obrigado a abandonar a profissão. Mas parece que não: para os nossos governantes, qualquer um pode dar aulas, desde que... ganhe pouco.
E tenha como habilitação literária saber quem era, perdão!, o que é o Magalhães, é claro.
27 comentários:
Chapelada :-)
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Bem visto.
Bem-vindo.
Mas isso é a cereja no bolo, o sonho dos governantes. Os mesmos professores, a fazer o mesmo trabalho por um salário muito mais reduzido, no fundo ou no topo. E como outra das consequências da recusa da avaliação é a não renovação dos contratos - ameaça da ministra mas não constante no ECD -, uma abundantíssima mão-de-obra flutuante será empurrada para fora do sistema e irá percorrer o país de mão estendida, agradecida por poder contribuir para a confirmação de que o sucesso escolar em Portugal ultrapassa todas as expectativas.
Nem vale a pena apurar nos detalhes a não ser pelo prazer académico da discussão, este modelo de avaliação dos professores tem objectivos muito mais vastos que não se prendem com qualidade. Essa neste momento só atrapalha, um professor inseguro é muito mais permeável.
A legislação referente ao processo prevê, contudo, que o professor venha a recusar ser avaliado
Não, não prevê, a legislação é omissa. Apenas estabelece as condições necessárias para a progressão na carreira, nunca antevendo a situação contrária.
ML:
"Os mesmos professores, a fazer o mesmo trabalho por um salário muito mais reduzido"
De onde tirou a ML esta conclusão?
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ml:
"Não, não prevê, a legislação é omissa. Apenas estabelece as condições necessárias para a progressão na carreira, nunca antevendo a situação contrária."
Pois. É exactamente assim.
RoD e Luís Oliveira:
Obrigado.
Caro dente, como não?
Se não progredir na carreira não tem que leccionar o mesmo programa e os mesmos níveis que os que chegaram ao topo?
E se já fizer parte dos titulares, não tem que executar as tais tarefas 'muito difíceis' de coordenação, acompanhamento dos colegas, etc, mesmo que fique a marcar passo no 1º escalão dos titulares?
O que é que distingue uns dos outros? O escalão e o respectivo vencimento.
ML:
Está bem. No contexto parece-me razoável que "fazer o mesmo trabalho" implique qualidade de trabalho. Parece-me haver lugar a poucas dúvidas que o post do JG vá nesse sentido. Não me surpreenderia que a ML quisesse fazer escorregar a coisa de forma a transformar mesma função em mesma qualidade de trabalho.
Pode ainda dar-se o caso da minha observação não ser suficientemente pós-moderna, insistindo, portanto, na lógica da batata.
... o tal problema da discussão à base de absurdos versus resolver a coisa assim a modos que à cachaporra.
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Boa entrada do JG. A ronronar é sempre bom...
Já agora é mesmo Gonsalo, com "s"?
Caro JG
Começou bem. Bem vindo.
Quanto à "crise de disponibilidade de tempo, com possíveis tréguas só lá para meados de Janeiro.";
Eu tb ando a dizer desde há uns meses que daqui a um mês é que é... Espero que consigo seja a valer.
CdR
"O Magalhães é afinal um computador!"
Meu caro. Que os controleiros do MinEd não se apercebam que a sua frase não tem a dose de devoção oficialmente estabelecida para o efeito. Ela deveria transbordar voluptuosidades como "certificação", "competências", "formativa", "educativa", "funcional", "tangível", "intangível", "diferenciação", "diversidade", "integrado", "sucessos", "desenquadrado", etc. A palavra "específicas" deveria aparecer insistentemente a cada 4 das outras.
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Não me surpreenderia que a ML quisesse fazer escorregar a coisa de forma a transformar mesma função em mesma qualidade de trabalho.
As suas surpresas são sempre surpreendentes e têm apenas a ver consigo próprio, raramente com o que os outros dizem. Acho que fui bem clara, os mesmos professores, a fazer o mesmo trabalho por um salário muito mais reduzido.
Não, o post do JG não vai nesse sentido nem deixa de ir, apenas conclui que a ministra se está nas tintas para essa qualidade. O que é verdade, basta olhar para este modelo de avaliação.
Lógica pós-moderna não sei o que é. Da batata, é o que mais se vê.
"Os mesmos professores, a fazer o mesmo trabalho por um salário muito mais reduzido, no fundo ou no topo."
Cara ML, gostei da sua intervenção. A minha irma é professora, e, infelizmente, ainda não tive muito tempo para falar com ela sobre este assunto (para além da minha falta de tempo, vivemos longe um do outro). Tentarei ficar mais informado sobre este assunto.
Caro Gonsalo, gostei do tezto. boa sorte.
"tezto"?!!!! Porra, que raio de lapso!
Cara ML,
Citando JG:
"Daqui decorre, naturalmente, que o professor poderá ser medíocre ou mesmo mau e permanecer na escola,"
No contexto a ML conclui que "Os mesmos professores, a fazer o mesmo trabalho por um salário muito mais reduzido"
Para si o medíocre (ou o mau) faz o mesmo trabalho que o não medíocre.
Mais, a ML afirma que:
"Não, o post do JG não vai nesse sentido nem deixa de ir"
Estará a ML a pretender justificar a não compensação (positiva) aos bons professores por fazerem o mesmo que os maus?
O nome verdadeiro da ML não é, por acaso, Maria de Lurdes Rodrigues?
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É isso mesmo que leu, ejsantos. Para trabalho igual, salário muito desigual. Por este sistema de avaliação não só poderá acontecer não serem os melhores a subir na carreira como bons professores poderão ficar a marcar passo devido às cotas. Para fazerem exactamente a mesma coisa, estejam em que escalões estiverem.
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Credo dentinho, que raciocínio mais retorcido, balhamedeus.
A minha frase os mesmos professores a fazer o mesmo trabalho não vem na sequência dos ‘maus ou medíocres’ que o JG refere. É melhor arranjar um descomplicador, os fantasmas dão cabo de si.
Veja se entende de uma vez: este modelo de avaliação não foi pensado para compensar a qualidade, mas sim para poupar dinheiro. O min-edu está-se nas tintas para quem vai para os escalões máximos, desde que vão poucos. Um professor pode ser excelente e nunca chegar ao topo porque se esgotaram as cotas. Se houver dez muito bons num departamento, três ganharão pela tabela máxima, sete muito abaixo. Fazem o mesmo trabalho, com a mesma qualidade com que o fariam se fossem titulares, mas ganham muito menos.
Será desta? Make it simple, caro dente.
ML:
"Mas isso é a cereja no bolo, o sonho dos governantes. "
Quer quer a ML dizer com "isso"?
Qualquer mortal percebe que a ML se refere ao port do JG.
O post do JG refere a qualidade do professor.
Que a ML resolva saltar por cima desse pormenor ou afirmar que o seu comentário inicial era tecido independentemente do post, é prerrogativa sua. E daí?
Que a ML ache que "Os mesmos professores, a fazer o mesmo trabalho por um salário muito mais reduzido, " fazem, de facto, o mesmo trabalho, é prerrogativa sua. E daí?
Compensar a qualidade ou castigar quem a não tem são faces da mesma moeda.
"está-se nas tintas para quem vai para os escalões máximos, desde que vão poucos."
Não é verdade. A história dos 7 anos comprova-o. O MLR não quer, em especial, que vão os mais velhos.
A ML adora ignorar a racionalidade global de um port. Nada de novo. Procura uma frase e agarra-se a ela. Faz parte do culto do absurdo. Faz parte da culto pelo qual se diz simultaneamente algo e o seu contrário sem que haja nisso algo de reprovável.
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"O MLR" -> A MLR.
Mas finalmente percebeu o que eu disse ou não?
Óptimo.
O resto é consigo, divirta-se. Do que eu gosto ou não de fazer a um post, é comigo.
Ah, o seu complicador tem uns erritos de programação e regista mal as premissas.
bem vindo a bordo
ML:
"Mas finalmente percebeu o que eu disse ou não? "
Perfeitamente. Foi esse o seu azar.
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Àqueles a quem ainda não respondi e que saudaram a minha entrada, mais uma vez o meu obrigado pelos elogios.
Lidador, é Gonsalo, do meu trisavô das berças. Ou da Lapa, tanto faz.
Ainda para ML: a omissão é a forma de agir privilegiada por este governo e tanto mais quanto mais explícito afirma ser nas suas decisões. É o não-dito que abre as portas para o que realmente se passa.
..."a omissão é a forma de agir privilegiada por este governo ..."
O que é muito má onda. Em termos de Direito Civil, tudo o que não é proibido, é permitido. Chamamos a isto o principio da autonomia da vontade. Mas em termos de direito Público vigora outro principio, que é o principio da legalidade, expressão que pretende dizer que tudo o que um poder público faça, tem que estar autorizado por lei.
Agora quanto ao comentário da ML a respeito das quotas (como forma de poupar dinheiro à custa da justiça nas avaliações): a confirmar o que ela diz, isto é de facto muito grave. Acabamos por ter pessoas a fazer o mesmo trabalho, mas com salários diferentes.
Às vezes chego a pensar que os problemas entre professores e o ministério, não são ideológicos nem de classe, apenas de entendimento...
Sr. carmo, está redondamente enganado. Os professores querem uma carreira docente, a ministra pretende que sejam meros gestores de números.
Hoje li num jornal uma comparação jocosa, mas que serve para estabelecer o absurdo: se a critura fosse ministra da saúde exigiria aos médicos que no início do ano indicassem, entre os doentes que lhes coubessem tratar, quantos morrereriam, quantos abandonariam os tratamentos a meio e quantos se curariam.
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Perfeitamente. Foi esse o seu azar.
Bom, vejo que afinal não percebeu. É demasiado simples, talvez.
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Acabamos por ter pessoas a fazer o mesmo trabalho, mas com salários diferentes.
Voila. É o que pretendem.
Bem-vindo ao fiel e boa sorte com a ML!
(até rima ihiihih)
Acontece que o ECD e a "avaliação" dos professores são instrumentos de gestão de carreiras. Nada têm a ver a ver com a qualidade do ensino.
Nomeadamente, o ECD permite a redução de custos com pessoal no imediato e, consideravelmente, no médio prazo. A "avaliação" consolida o ECD, permitindo a seriação na passagem a titular.
Visto desta perspectiva, facilmente se explicam as simplificações do "modelo", o qual por si já tinha o foco nas questões da carreira, em vez de incidir na qualidade das aulas.
A questão é que um mau professor continuará na escola e poderá progredir na mesma desde que cumpra a via sacra do "modelo". Poderá dar aulas horríveis e deixar os alunos mal preparados que esta componente é pouco determinante na sua avaliação. Basta-lhe dar duas boas aulas (as assistidas) e dar boas notas aos seus alunos e tudo continua na boa.
Já quanto à recusa da avaliação não trazer consequências, há aí uma imprecisão. Duas notas consecutivas de insuficiente são motivo de despedimento.
Leiam o ECD+avaliação pelo prisma da redução de custos com o pessoal e tudo fará sentido.
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