Esta estatística do FMI demonstra, entre outras coisas, a total interdependência das diferentes economias. Quando os EUA expiram os chineses ficam constipados...
A curva do crescimento económico dos últimos anos dos países em pleno desenvolvimento (China, Rússia, Brasil, Índia) segue a curva dos países ocidentais (EU, Europa, Japão) ocidental de forma perfeitamente paralela, só que a partir de 2008 6% acima. Assim é que a crise financeira nos EU está a provocar uma grande onda de desemprego na China.
Um resumo de um interessante artigo, e ilustrativo daquilo que acabo de dizer, do correspondente do NRC na China Oscar Garschagen. Li Yuan (37 anos) originária do interior rural da China e trabalhadora numa fábrica de brinquedos no sudoeste industrializado (Delta do Rio das Pérolas) não sabe nada dos EU nem da Europa e muito menos da crise financeira. Só sabe dizer duas palavras em inglês: Merry Christmas.
O período de Natal numa fábrica de brinquedos como a Smart Union na cidade de Dongguan começa em Julho! Para Li Yuan isto é sinónimo de muitas horas extraordinárias, em que pode facilmente duplicar o seu salário de base: € 75 por mês. Mas azar do camandro, ela, e mais 6500 outros trabalhadores da Smart Union foram postos na rua de um dia para o outro e sem aviso prévio. Precisamente a mesma coisa aconteceu nas outras 3000 empresas de brinquedos, têsteis e de electrónica da região do Delta.
No dia 14 de Outubro, cansada, deitou-se como de costume à meia-noite: no dia seguinte às 7 da manhã só a deixaram entrar na fábrica para levantar a sua carta de despedimento. De repente a fábrica não consegue crédito do banco nem encomendas dos EU nem da Europa, e o encerramento da fábrica prova que a crise financeira no Ocidente afectou a China mais do que se previa. Os bancos chineses, devido a um grande controlo de entrada e saída de capital, ainda conseguiram mais ou menos escapar à crise, mas o sector ligado à exportação (40% do PIB) geme. O banco Credit-Suisse de Hong-Kong prevê para o fim deste ano uma baixa para 5,8% de crescimento e em 2009 prevêem que o crescimento económico se estabilize à volta dos 6%, quase metade dos números de 2007 e começo de 2008...
Os economistas chineses dizem que se o crescimento baixar mais do que os 8% a China não é capaz de criar o número suficiente de empregos para os milhões de trabalhadores que todos os anos deixam a província para virem trabalhar para as zonas industriais da costa oriental, e para os cinco milhões de estudantes que saem anualmente das universidades e dos institutos. O primeiro ministro, Wen Jiaobao, foi mesmo obrigado a dizer que uma baixa de crescimento económico pode mesmo ameaçar a estabilidade social.
Na região do Delta, onde são fabricados 30% dos brinquedos de todo o mundo, mais 35% do calçado e quase 50% dos micro-ondas fecharam, segundo as autoridades locais, 3.631 fábricas de brinquedos. Metade do número total de fábricas de brinquedos. Segundo o diário Nanfang Duoshau, se se acrescentar as fábricas de têxteis, calçado e de móveis, ultrapassa-se as 30.000 empresas que fecharam as portas. Segundo números oficiais publicados este mês, a quantidade de desempregados na China é de apenas 8 milhões, mas nestes números não estão incluídos os estudantes recém-diplomados nem os trabalhadores ‘migrantes’ que procuram emprego.
Li Yuan, de 37 anos, não está a par destas coisas, tão pouco sabe o que significa a frase estampada na sua camisa, You will never kiss him, sabe que nos últimos 15 anos sempre encontrou trabalho muito facilmente em Dongguan, mas ‘ultimamente ninguém me quer. Em todo o lado dizem-me que já não sou nova e que não tenho escolaridade suficiente’.
Quando a direcção da Smart Union (de Hong-Kong) abalou à socapa – parece ser prática corrente – as autoridades de Dongguan, para evitar uma revolta, foram obrigadas a pagar os salários, também os salários em atraso. Mas como diz Li Yuan, ‘não estou assegurada nem tenho uma reforma, além disso a cidade só pagou o salário de base, acerca das horas extras ficamos a ver navios’.
Uma coisa Li Yuan tem a certeza, não quer voltar para a sua aldeia na província de Sichuan, para junto dos seus pais de idade avançada que neste momento tomam conta da sua criança. Assim como Li Yuan, trabalham na região do Delta 5 milhões de migrantes originários da sua província, e as autoridades ficaram bastante assustadas quando viram as previsões para 2009. Muito destes trabalhadores vão ter que voltar para a sua aldeia natal, e este medo não é exclusivo de Sichuan. Na província de Chongqing (31 milhões de habitantes) estão já a contar com o retorno de 3 milhões de trabalhadores que já não são precisos no Delta do Rio das Pérolas. Paira a ameaça de uma indesejável migração contrária de desempregados.
13 comentários:
Esta estatística do FMI demonstra, entre outras coisas, a total dependência das diferentes economias: quando os EUA expiram os chineses ficam constipados...
Não vejo muito bem de que forma é que o gráfico demonstra isso. Por um lado, parece-me mais evidente falar de interdependência. Por outro, o principal parceiro comercial da China é a UE, não os EUA.
"...é sinónimo de muitas horas extraordinárias, em que pode facilmente duplicar o seu salário de base: € 75..."
"...ela, e mais 6500 outros trabalhadores da Smart Union foram postos na rua de um dia para o outro e sem aviso prévio."
"no dia seguinte às 7 da manhã só a deixaram entrar na fábrica para levantar a sua carta de despedimento"
É o paraíso do liberalismo económico!!!
stran disse:
"É o paraíso do liberalismo económico!!!"
E quanto é que stran pensa que ela, e os outros, ganhavam por ano na terra natal??
A ignorância nunca foi boa companheira.....
o principal parceiro comercial da China é a UE, não os EUA
2006- China-EU: comércio no valor de 255 biliões de euros (310 biliões de euros, à paridade euro-dólar de 2006) ( Eurostat)
2006-China -USA: 343 biliões de dólares.
"o paraíso do liberalismo económico!!!"
A China, um país liberal?
A estupidez adensa-se.
World,
Interessante não ter pegado no facto de quando for despedida não ganhar nada. Pormenores que apenas um ignorante liga...
Lidador,
"A China, um país liberal?
A estupidez adensa-se."
Se não o conhecesse diria que estava com diculdades de raciocinar sobre o que escrevi...
P.S. já terminou o seu amuo?!?
Lidador:
September's surplus appears to shrug off warnings that businesses in the key export sector could suffer from the economic downturn in Europe - the biggest destination for Chinese goods. Trade with the 27-nation EU rose 25.9 percent over the first nine months of the year to $322.5 billion, the agency said
Forbes, 13 de Outubro de 2008
Ao world
O meu amigo tem toda a razão, quanto é que ela ganharia por ano na sua terra natal?
Menos, muito menos.
Mas nós aproveitarmo-nos das debilidades dos outros para dai tirar alguma vantagem... é feio não é? Diga lá.
Ao Lidador
Meu caro, o senhor vai desculpar-me por me meter na sua conversa com o Stran, mas já agora gostaria de ver como caractriza o senhor o Liberalismo, é que em minha opinião, o seu interlocutor tem toda a razão quando se refere a China, como um dos paises mais liberais do mundo no que diz respeito a direitos laborais.
"China, como um dos paises mais liberais "
Meu caro, na China manda o ESTADO.
É do caraças chamar "liberal" a um país onde o Estado manda em tudo.
Claramente você não tem a mínima ideia do que é o liberalismo e acredita piamente na propaganda fascista e socialista que sempre encararam o liberalismo como o "Mal".
Ums leituras sérias não lhe fariam mal e evitariam pelo menos a patética queda na asneira.
Caro Carmo,
O meu problema não está em entender as metáforas, o que me faz comichão é que não tenho a certeza que estejam correctas.
1 - Os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) têm tido ritmos de crescimento bastante diferenciados; não tenho números neste momento (posso ter, se fizer mesmo questão...), mas inclino-me grandemente para que o crescimento chinês se destaque muito do dos outros 3; no entanto, o seu gráfico agrupa os 4 e isso não é visível.
2 - Falei da UE porque somós nós o maior destino e produtos chineses, não os EUA, o que tornaria a China mais dependente dos nossos 'espirros' que dos transatlânticos.
3 - Como poderá ver, a linha da China andaria sempre (ou quase) acima da das economias ocidentais e, actualmente, como bem repara, é a linha vermelha que passou para valores negativos, pelo que suspeito que a forma como o Carmo aloca "espirros" e "constipações" a diferentes blocos poderá induzir em erro...
A vida não está, de facto, boa para as Li Yuans deste Mundo globalizado. Que o digam as operárias da Maconde em Portugal...
A acreditar nas notícias ontem publicadas, a Alemanha (a economia mais forte da UE) entrou em recessão económica, depois de dois trimestres consecutivos de "crescimento negativo".
Ora, sabendo nós que quando a Alemanha espirra a Holanda fica constipada, eu - se fosse o Carmo da Rosa - estaria mais preocupado com a crise nos Países-Baixos e começaria já a armazenar as aspirinas...
Caro Carmo,
A questão é que você está a dizer que o que espirra entra em recesão e o constipado continua a ter ritmos de crescimento invejáveis (sendo sempre mais ou menos assim que a coisa se passou nos últimos 30 anos). Não sei se me fiz entender, mas o meu problema é precisamente o da metáfora, porque para si o doente não é o que está em recessão.
Eu percebo perfeitamente que se trata de linhas de crescimento e que, como os pontos de partida entre as economias desenvolvidas e a China são tão díspares, o que acontece é perfeitamente normal (portanto, antes que surja por aí algum 'esperto', esclareço que não estou a tentar dizer que a economia chinesa é 'melhor' que a ocidental, ou qualquer outra adjectivação estapafúrdia). Muito simplesmente, acho que a sua metáfora não se aplica neste caso. Lamento ter pegado numa questão eventualmente lateral em relação ao seu post 'sindicalista'...
P.S. Continuo a insistir que a China poderá não ser comparável com os outros três e que, portanto, a linha que representa o grupo onde se insere será enganadora.
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