Aproxima-se o desfecho

Tudo indica que o Hamas está a quebrar. Diplomatas envolvidos nas negociações dão claramente a entender que a liderança em Gaza está praticamente derrotada, tendo perdido a vontade de combater (o objectivo militar de qualquer guerra é exactamente quebrar a vontade de combater do inimigo).
Haniyeh acaba de fazer um discurso televisivo no qual, no meio dos fumos da retórica islamista, da vitória do Ala, e essas coisas, mostra estar ansioso por um cessar-fogo.
Pelo contrário a liderança no estrangeiro continua adamante na rejeição de qualquer compromisso, o que se compreende, porque não são eles que estão há 3 semanas escondidos em túneis e bunkers, sujeitos a ataques cada vez mais próximos, com a comida a escassear e sabendo que centenas dos seus combatentes já morreram ou foram capturados.

Muito interessante é a gesticulação desesperada do Irão, que este fim de semana enviou a Damasco dois dos seus mais altos responsáveis, para pressionar, diz-se nos meios diplomáticos, a liderança do Hamas a não aceitar o cessar-fogo, ameaçando mesmo cortar completamente a ajuda financeira e militar ao movimento islamista.
De facto, se o Hamas aceitar um cessar-fogo onde constem as exigências israelitas, malgrado a retórica que use para salvar a face, terá sido uma severa derrota do Irão, uma vez que todo o Médio Oriente sabe que o Hamas é um proxie iraniano.
Israel terá logrado aquilo que queria, isto é, o fim dos foguetes e o controlo do rearmamento do Hamas, terá afirmado a sua capacidade militar perante as farroncas iranianas e do seu proxie do Norte (ganhar uma batalha deste dimensão, nestas condições, com menos mortos em combate do que automobilistas nas nossas estradas no mesmo período, revela um Exército de excepcional qualidade) e pode entrar em período eleitoral de papo cheio.
O Irão verá a sua estratégia de meticuloso cerco ir por água abaixo, a sua impotência tornar-se-á patente, e o seu proxie do Norte ficará cada vez mais reduzido ao palavreado agressivo, uma vez que os mísseis não poderão ser usados e aos poucos ir-se-ão degradando, sem que o Irão logre, agora que se debate com uma grave crise económica e financeira, promover a completa substituição dos elementos explosivos e propulsantes.

Obama vai herdar interlocutores palestinianos bem mais macios e até pode acontecer que o Hamas, vergado à dura realidade do poder israelita, perceba de uma vez por todas que é melhor para todos que opte por ser apenas um partido político com implantação popular, do que um grupo de loucos armados, ao serviço de Ala e dos aiatolas.
E o Irão, prestes a dotar-se de uma arma atómica, irá ter muitas dificuldades perante um Israel confiante e uma Administração Obama que sabe agora, com toda a precisão, o que está realmente em causa.
De resto, também a propósito de Guantanamo, Obama acaba de reconhecer que a questão é mais complexa do que pensava, como eu mesmo tinha escrito há umas semanas, aqui.