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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

MÁ GESTÃO PROVOCA 1200 MORTOS EM GAZA …e 13 em Israel.


Há dois dias, numa troca de opiniões no Arrastão sobre a proporcionalidade da violência no conflito Hamas-Israel, perguntei ao Daniel Oliveira quantos Judeus deveriam morrer para a retaliação de Israel ser proporcional. Não obtive qualquer resposta! Logo a seguir um blogueiro que assina JC (não posso assegurar que seja o Cristo mas a abordagem da questão é divinal) comenta a acusação da falta de proporcionalidade por parte de Israel de maneira assaz original e resolve ao mesmo tempo o dilema da culpa. Tão pouco obteve resposta. A abordagem de JC poderia ter nas calmas como título A Esquerda são uns amigos da onça, ou então, O exército israelita é a única organização que verdadeiramente se preocupa com a saúde dos Palestinos, ou ainda, Com amigos destes os Palestiinos não precisam de inimigos. Estou a exagerar? Leiam por favor.

JC:
Daniel, imagine que Israel resolvia pedir autorização aos seus amigos da onça para, digamos, reagir proporcionalmente.

O Hamas lançava um foguete. Uma comissão de Daniéis ia verificar cuidadosamente ao terreno e verificava que o foguete tinha destruido uma estufa e ceifado o braço a um porco judeu. Não tinha feito mais vítimas porque os porcos judeus têm a mania de fazer abrigos para se protegerem da “resistência”.

Israel fica então autorizado a lançar também um foguete a esmo sobre Gaza, que vai cair num mercado e matar 15 civis inocentes (designação que só é aplicável a palestinianos, mas só se forem mortos por israelitas).

Berreiro internacional, manifestações com muitos alahu akbar e outros slogans progressistas: os porcos sionistas estão mais uma vez a usar força desproporcionada, uma vez que sabem bem que o povo palestino não tem abrigos para se esconder, uma vez que o dinheiro disponível é para fazer bunkers para os queridos líderes e bravos “resistentes” e para comprar o último modelo de míssel Grad.

Por esta altura do campeonato já Israel teria lançado ao acaso sobre Gaza para aí uns 6000 mísseis, tal e qual como o Hamas, e, a uma média (baixa) de 1,5 mortos por rocket, a coisa já ia em 9000 civis palestinianos inocentes a fazer tijolo, o que até seria pouco, dado que poucos têm acesso aos túneis… isso é para a vanguarda revolucionária.

Outra abordagem original do conflito Hamas-Israel. Desta vez escrita em Dezembro por um filósofo Persa que é professor na Universidade de Leiden, vive refugiado na Holanda e faz parte dos que têm que ser protegidos pelo estado por causa da religião da paz. Dou a palavra a Afshin Ellian:

A enorme atenção dada ao conflito na Palestina leva-nos automaticamente à questão: Será o povo palestino o mais lamentável ao cima da terra? Com certeza que não. Os Palestinos, em comparação com outros povos vítimas de conflitos, obtêm sempre mais atenção de organizações internacionais, de estados e da imprensa. Africanos e Chechenos são por vezes chacinados em massa por regimes ditatoriais – nada que se possa comparar com o que se passa na Palestina - mas para estes não há tanta antenção nem tantos subsídios.

Mas toda esta atenção de vários países e organizações para com os Palestinos não fazem com que eles sejam mais felizes. Porque na realidade esta atenção muito especial dada aos Palestinos nada tem a ver com eles, é tudo por causa do inimigo, por causa dos Judeus. Nunca vi Van Agt [ex-primeiro ministro da Holanda entre 1977-1982, católico e de direita. Nota do trad.], Van den Broek [ex-ministro dos negócios estrangeiros no mesmo período e do mesmo partido que Van Agt. Nota do trad.] ou outros membros europeus do clube anti-israel tão emocionados e tão preocupados com outros conflitos de maior envergadura. Neste caso a sensatez e a proporcionalidade é completamente posta de parte. Resumindo, os adversários dos Palestinos com a sua história bem específica é que fazem com que os Palestinos se tornem tão interessantes.

Estranhíssimo é que no mundo islâmico se passe, em relação a este conflito, precisamente a mesma coisa. Porque razão é que as autoridades iranianas estão tão intensamente envolvidas com este conflito? O Imã Khomeini, fundador da República Islâmica do Irão, já em 1969 teologizava no seu Velayat-e-Faqih [sharia para xiitas. Nota do trad.] sobre os Judeus: “O Islão já no seu início era contestado pelos Judeus. Eles foram os primeiros a fazer propaganda anti-islâmica. E ainda hoje é assim.” Traduzido em língua de gente quer isto dizer: O profeta Maomé era contestado pelos cabrões dos Judeus e nós agora também somos vítimas dos cabrões dos Judeus...

A luta e a destruição de Israel nem sempre é apenas uma questão escatológica para o governo do Irão, é também uma estratégia de sobrevivência. Trata-se de manter vivo o entusiasmo pela Jihad à custa do inimigo externo que já foi internalizado. Há trinta anos que isto é a política oficial do Irão: fundar, subsidiar e armar grupos terroristas para destruir Israel. Por isso é que no últimos dias a imprensa no Irão não fala de outra coisa. Quem seguir as notícias poderia pensar que Gaza é uma frente de combate em que o Irão está directamente envolvido! E aqui é que começam os problemas do Hamas.

Khaled Meshaal, o mais alto representante do Hamas na Síria, vai regularmente ao Irão e, logo a seguir à vitória do Hamas nas eleições em Gaza, foi convidado para uma conferência anti-israelita organizada pelas autoridades de Teerão. Khamenei, o líder religioso do país, também estava presente e corriam rumores que o Hamas, ao ter que assumir responsabilidades administrativas, poderia adoptar uma atitude mais moderada.

Para sossegar os presentes na conferência, Meshaal fez questão de sublinhar que o Hamas não é um movimento político tipo mais-um-partido. Trata-se de uma luta (ele disse Jihad) pelo Islão e da criação de um estado islâmico em terra santa. Por isso, ainda segundo Meshaal, “nunca reconheceremos Israel”.

No início de 2008 Jimmy Carter queria ver se conseguia um acordo com o Hamas através do Egipto por causa do bloqueio de Gaza. No âmbito deste acordo o Hamas deu quase a entender que era a favor de uma abertura – quase. Mas para evitar mal-entendidos entre as hostes muçulmanas radicais do Médio Oriente, Meshaal explicou o que na realidade visava com o tal acordo (tréguas). Meshaal chamou ao acordo uma tahdiya (árabe: uma pausa durante o combate): “Na gestão do conflito vamos passar de uma fase de resistência para uma fase de calmaria. Com base no nosso projecto de como gerir este conflito, o termo tahdiya tem uma conotação estratégica”. Para a seguir sublinhar que a tahdiya serve ao Hamas para melhor servir a população de Gaza: “É desta forma que a guerra é gerida. É esta a nossa especialidade. Em 2003 começamos com tahdiya para logo a seguir retomar as operações (militares). O mesmo aconteceu em 2005. (…) Este é o método de gerir este conflito.”

Para quem ainda não sabia, depois de mil anos de guerras tribais: as tréguas fazem parte da táctica militar. O Hamas simplesmente copiou o que fazia o profeta Maomé, e o profeta copiou isso de chefes guerreiros do deserto. Também o profeta tinha por costume assinar acordos por um determinado prazo, mas quando se encontrava na mó de cima retomava as hostilidades. Mas o senhor Carter não entendeu isso [não leu o Alcorão! Nota do trad.], porque é um decente e politicamente correcto ocidental.

Entretanto temos que concluir que a gestão do conflito implementada por Meshaal não funcionou. O preço da má gestão foi paga pelos habitantes de Gaza e de Israel. Será possível o aparecimento a curto prazo de uma facção moderada do Hamas? Já no dia 14 de Dezembro – por isso antes da invasão israelita – Meshaal afirmava em entrevista à cadeia de televisão Al Quds que a tahdiya foi acordada por seis meses. Acaba no dia 19 de Dezembro e, segundo Meshaal, “não vai ser renovada”.

Meshaal teve azar, porque os Judeus de Israel, sendo metade deles originários de países árabes, percebem os radicais muçulmanos de ginjeira. (Apesar do Hamas, tal como em Junho de 2008, e em plena tahdiya continuar a atirar foguetes Qassam na direcção de Israel). Será que o Hamas tem o controlo sobre todas as suas facções? Muitos há que têm interesse no recomeço das hostilidades, como por exemplo o Irão, onde o regime pode canalizar durante mais algum tempo as frustrações da população local na direcção de Israel [o mesmo se verifica neste momento na pacata Turquia. Nota do trad.]. Porque mesmo que todos os militantes do Hamas sejam mortos, Teerão vai reivindicar a vitória.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, ainda retira mais vantagem do que outros da operação militar israelita, porque desde a sangrenta tomada de poder pelo Hamas (350 mortos e 1000 feridos) existem duas Autoridades Palestinas. Os cínicos já falam de uma Solução de Três Estados. Este ano os palestinos vão ter que eleger um presidente, e isso só pode acontecer se a faixa de Gaza já estiver outra vez nas mãos da Fatah. Bem vistas as coisas isto é uma grande melhoria: é preferível um regime de corruptas famílias mafiosas que religiosos apocalípticos. Esta operação militar torna isto possível. Mas isto não implica uma solução para o conflito, e os Israelitas estão conscientes disso. Vai haver um período de tranquilidade para os dois povos, até que um deles se torne tão forte e frustrado que vá esmagar o outro. É assim que as coisas funcionam no Médio Oriente, desde o primórdio dos tempos.

5 comentários:

José Gonsalo disse...

Boa malha!

Anónimo disse...

Não sei, nem tenho de saber, quem é este JC mas tiro-lhe, com apreço e deferencia, o chapéu (que aliás não uso) pela forma como viu claro e justo.
Endereçou a carta a Daniel, mas creio que ele não entenderá. Não porque lhe falte inteligencia suficiente, mas porque a sua estrutura geral não cede a um racionalismo consequente.
Digo isto sem acinte, mesmo com respeito. Limito-me a uma constação.
Não sabia quem era esse Daniel, só depois de me tornar leitor do FI corroborei uma ou duas vezes em que os olhos tinham, digamos assim, deslizado sobre ele num programa de tv.
Dei um pouco de atenção posterior ao senhor.
Concluí, sem ofensa e falo sinceramente, que é locubrador que vive imerso numa ideia enganada sobre o ser e as coisas.
Ademais, creio que isso provém dum, utilizemos esta expressão, tipo de mentalidade de cariz vincadamente alfacinha, enformado de aparente cosmopolitismo mas, no fundo, fruto de ideias feitas, de ideias gerais e de uma pequena sobranceria - leia-se A Capital, de Eça - de facto provinciana e um pouco auto-glorificadora.
Mas a carta resulta como belo escorço afixando uma interpretação coerente.

L.

Anónimo disse...

Os da esquerda cantante não se interessam pelos palestinos ou outros senão na medida em que através do apoio à sua "luta" nos podem chatear.
São como o adepto que sai do estádio em que a sua equipa perdeu e em casa dá uma sova na mulher.
Se percebermos isto perceberemos tudo e a forma de os achatar.

MIGUEL MATOS

EJSantos disse...

Ah, grande Miguel!
Adorei

Anónimo disse...

Obrigado, EJSantos.

MIGUEL VASCONCELOS DE MATOS