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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Balanço em Gaza

Já lá vão quase duas semanas de ofensiva e,malgrado a pouca informação disponível,pode-se fazer algum balanço.

1º- Apesar de Israel controlar já mais de 70% das zonas de onde ao longo dos últimos anos foram lançados mais de 6000 foguetes e granadas de morteiro, o Hamas continua a ser capaz de lançar foguetes. Tal facto era esperado. Muitos dos lançadores estão enterrados e são accionados à distância. Descobri-los todos é como procurar agulhas em palheiros. Como já tinha dito, o que Israel pretende é que os dirigentes do Hamas percam a ligeireza com que puxam os gatilhos e que para si mesmos digam aquilo que Nasralah disse publicamente em 2006: " se soubesse que Israel iria reagir desta maneira, não teria desencadeado a operação".

Demonstrativo desta ideia foi um debate ontem, numa cadeia televisiva árabe, entre um comentador egípcio e um porta-voz do Hamas. O egípcio a dada altura perguntou ao representante do Hamas: "Onde é que a vossa estratégia vos levou? Que território libertaram? Porque não reconhecem, como o Hezbolah fez, que subestimaram a resposta israelita? "

O porta-vos do Hamas emudeceu brevemente e quando abriu a boca foi para culpar o egípcio de estar a criticar o Hamas, em vez de Israel.

2º-A liderança do Hamas em Gaza desapareceu e apenas dá sinais pré-gravados, a partir de bunkers, imitando os dirigentes da Al Qaeda, isto é, protegendo-se a si mesmos e apelando ao "martírio" dos outros. Não há instituições que possam cuidar das populações e a única autoridade visível é representada pelos canos das espingardas dos terroristas que de vez em quando se mostram nas ruas. Sintomaticamente, os representantes do Hamas que vão ao Cairo, respondem perante Mashaal em Damasco, e não perante a liderança em Gaza.

3º-As manifestações contra Israel, desencadeadas por grupelhos de extrema-esquerda, grupos neonazis e simpatizantes do islamofascismo, vão tendo lugar um pouco por todo o mundo e eram esperadas. Trata-se de comportamentos pavlovianos que ocorrem sempre em resposta ao estímulo certo, em indivíduos condicionados a tal. De qualquer modo têm sido bastante menos virulentas do que é habitual, e isso sim, é uma novidade.

4º- De um modo geral a cobertura mediática é hostil a Israel, o que também não constitui novidade. A maioria dos jornalistas está formatada nas ideologias do marxismo cultural e tende a aderir às narrativas simplificadas e moralizadoras típicas destas visões do mundo, resistindo bastante a equacionar o problema tal qual ele é: Israel está a exercer o seu legítimo direito de auto-defesa face a uma continuada agressão por parte de um grupo terrorista que actua às ordens do Irão.

5º- Israel tem mantido uma notável circunspecção sobre a campanha militar. A ideia que perpassa é a de que há um plano e que ele está a ser seguido com profissionalismo e método, por uma máquina militar treinada e eficaz, que tem a iniciativa estratégica e táctica, obrigando o Hamas a combater nos termos escolhidos por Israel.


6º. Os objectivos tácticos parecem ser reduzir a capacidade de combate do Hamas e destruir a maioria das suas infraestruturas, sem contudo expor as tropas à atricção do combate em áreas edificadas, onde o gap tecnológico se reduz ao mínimo. Todavia nos próximos dias as tropas israelitas terão de entrar em algumas dessas áreas e é natural que haja um maior número de baixas de ambos os lados, sendo essa a esperança do Hamas para poder declarar alguma espécie de "vitória" que lhe permita manter a face.

7º-Em termos diplomáticos, a pressão tenderá a aumentar sobre Israel, mas parece que o governo israelita tem uma apurada noção de que as suas necessidades de segurança não deverão ceder à correcção política, impondo condições para um cessar-fogo que evitem o regresso a um status quo ante. E para tal o Hamas terá de ceder, mesmo que procure evitar parecer que o faz, e aqueles que pressionam o cessar-fogo terão de apresentar um mecanismo de controle e verificação que satisfaça os objectivos de Israel: que não sejam lançados foguetes sobre Israel e que não entrem pelas fronteiras de Gaza foguetes sofisticados e explosivos de qualidade.

8º-A linha que separa o sucesso do insucesso é sempre muito ténue, principalmente no campo das percepções, e num campo de batalha tudo pode mudar de um momento para o outro. Napoleão já saboreava a vitória na Batalha de Waterloo quando os prussianos de Blucher chegaram e alteraram tudo.


1 comentário:

Anónimo disse...

Mais um excelente artigo do ponto de vista da análise estratégica, com pontuadas, esclarecidas e documentadas, da coisa militar.
E mais uma vez, há que redireccionar o artigo para "os coleguinhas" de mister...
Obrigado.