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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Descendo

Ao ler certas notícias ficamos admirados por perceber que, mais do que nunca, não é só pelas cores da bandeira que Portugal se assemelha a um Estado africano; é também pela noção de governados e governantes de que vivemos num tríptico de abuso, favorecimento e impunidade.

Com Sócrates, o mitómano, a coisa atingiu profundezas desconhecidas mas absolutamente possíveis, como se pode comprovar em mais um caso noticiado pelo ‘Público’.

Desta vez ficamos a saber que Armando Vara foi promovido na CGD. Alguns vão pensar “espantoso foi ele ter sido nomeado para a Administração, tudo o mais que possa vir depois disso é menor.”. Pois, seria assim não se desse o ‘pormenor’ de o moço se ter demitido da CGD antes da promoção.

Será isto legalmente possível? O mais certo é que seja. É que esta é uma das principais características do atual regime político: o favorecimento pessoal e a duplicidade do Estado (em função das ligações ao poder dos cidadãos) estão devidamente acautelados na lei ou, quando não, na sua aplicação.

Pode haver quem diga que isto são 'peanuts'. Descemos tão baixo que quem o disser tem toda a razão. Isto aqui é que já não são 'peanuts', por mais baixo que tenhamos descido. Pode ser que venhamos a saber se alguém meteu a mão no pote, tudo depende do grau de opacidade que for sendo conseguido pelas estruturas que velam por estes assuntos. Em todo o caso fica uma aposta: se algum dia vierem a ser revelados favores, o(s) favorecido(s) do(s) meio(s) partidário(s) mais depressa irão a deputados do que para a prisão.

(Os créditos do 'cartoon' serão atribuídos logo que se descubra qual a sua origem.)

14 comentários:

RioDoiro disse...

Haverá certamente uma interpretação de qualquer texto legal que permita encarar sem reticências qualquer manobra fundamentada em "causas justas".

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Anónimo disse...

E pensar que este homem me andou a actualizar a caderneta, durante anos, na CGD de Mogadouro...

Ainda me lembro das nossas demoradas e profícuas conversas: "Oh Xô Vara, dê-me aí os papeis para os depósitos faxavor, e já agora actualize-me a caderneta a ver se já cá canta o carcanhol."

Ao que ele, educadamente, respondia "é tudo, posso ajuda-lo em mais alguma coisa?"

Eu sempre disse que este homem ia longe... e foi...

Este pulha é o exemplo acabado de que em Portugal caiu por terra o conceito de self-made man, para emergir o neologismo de "salto à vara", literalmente!!!

R disse...

«É que esta é uma das principais características do atual regime político: o favorecimento pessoal e a duplicidade do Estado»

Exacto, foi mesmo assim. Aliás, Portugal antes de Sócrates e o PS tinha um índice de desenvolvimento maior que os Estados Unidos. Caciquismo? onde? não nada. NUnca existiu. Foi preciso os "boys" do PS dominarem o aparelho de Estado para aparecer este fenómeno (recente?) de favorecimento pessoal.

Aliás, só hoje me apercebi que existe favorecimento pessoal no "establishment".



Enfim... "same as usual".

R disse...

Aliás, isto tem um nome; HIPÓCRISIA.

Paulo Porto disse...

Caro Mancha Negra

Não, não é de agora. O que é de agora é a dimensão que a coisa assume e a apatia.

Quanto ao mais, a sua observação é própria dos 'rapa-o-tacho'. Aproveite enquanto há.

R disse...

«Não, não é de agora. O que é de agora é a dimensão que a coisa assume e a apatia.»



Exacto. Nunca na "estória" da República (e Monarquia) Portuguesa existiu apatia. Aliás, foi mesmo só na actual legislatura que a apatia sobresaíu. O marasmo genético afinal é sinal do actual regime.
Aliás, a dimensão só se alastrou agora, porque o caudilhismo estatal pós PREC nem foi uma concomitante. É de agora e agora é que vale a pena atirar sound bytes.







Sempre na mesma o amigo Porto e companhia.

Anónimo disse...

Caríssimos, vou a seguir traçar um comentáriozinho referente ao caso deste prendado moço, mas antes deixem-me que diga que, por ir emigrar devido à crise para um dos paraísos fiscais, ou turísticos, Trinidad y Tobago, terei de abandonar o comentarismo neste acolhedor hotel de cinco estrelas bloguístico.
Contudo - não temais! Por portas-travessas consegui arranjar-vos um digamos assim herdeiro que, ainda por cima, se disponibilizou a actuar no próprio "corpo de delito", ou seja no Fiel Inimigo himself.
Tem ele a graça de Lourenço Aldegalega, designativo escolhido em homenagem ao nome sonante do antigo corredor pedestre(pois na verdade usa na vida civil o muito real e reles nome de José Silva) e já me soou que o seu primeiro post dirá respeito à génese dos nomes, uma incursão lírico-política que ele me garantiu será muito justa e algo divertida. Mas passemos adiante...

No que respeita a este senhor Vara, creio que é um exemplo de enorme democracia! Explico já: nas democracias a sério, daquelas com princípio meio e fim, digamos Estados Unidos, é paradigmática a frase realista que "Qualquer homem vulgar pode chegar, pelo seu mérito, a Presidente.". Veja-se para corroborar o grande presidente Carter, que não conseguiu ganhar, hélas, o galardão de Maior Idiota Enquanto Presidente (ele bem tentou, pondo-nos por duas vezes à beira da batalhinha nuclear!) e, sendo apenas um cultivador de amendoins, chegou a ser presidente do Grupo Coral (não brinco!) da sua terra!
E poderia falar noutros, mas não quero alongar-me.
O caso de Vara é um caso de talento e humildade (dele e de alguém que muito o estima, o sr. presidente do Conselho, que - aliás - sendo segundo dizem os maus um medíocre arquitecto, também conseguiu chegar longe graças à sua fenomenal palheta de magnificente homem de Estado).
Talento pelas razões óbvias; humildade, porque sendo Portugal um pequeno país, não pode dar-se a esses desarrincanços de alta escala como os EUA.
Assim senso, não podendo chegar a presidente dos Estados Unidos, chegou o bom do homem ao que chegou e isso não foi um prémio de consolação, mas sim o reconhecimento socialista (PS!PS!PS!) de que homens destes são e serão sempre um prestígio para Portugal.
E para o Freixial...

LUCAS, o Saudoso

R disse...

É que muitos se esquecem que o alto funcionalismo sempre singrou a partir do PREC. Seja PPD, PS, CDS. É congénito e estrutural. Não é CONJUNTURAL.
Não serve de arma de arremesso vir meio século depois acusar os já de si instalados, para justificar uma heteredoxia escusada.

Anónimo disse...

Mancha Negra, atenção; basta ler um bocadinho de Raul Brandão, nem vale a pena falar de outros, para ver que a subida sem ser a pulso, no meio da apatia, foi uma constante quer na última fase da Monarquia (saliento que sou monárquico por razões de nascimento) quer na República e Estado Novo.

F.Rodrigo de Montefrio

RioDoiro disse...

Caro mancha negra, o negro abunda por aí. Abunda, de muito, não de bunda (necessariamente).

Oh cavalheiro.

Embora houvesse ligação entre computadores desde os anos 70, nunca as redes se expandiram em teia como agora.

Claro que você pode continuar a marrar que já havia redes. É verdade. Viriato comunicaria por sinais de fumo, sabe-se lá. Mas, tal como as redes, nunca no passado próximo, o deboche foi tão descarado.

Porque não acabar com concursos públicos? Ao fim e ao cabo, já há muitos anos que as viaturas do Estado são abastecidas em qualquer bomba.

Porque não possibilitar a promoção que qualquer boy, em qualquer empresa, mesmo que o dito desconheça que ela existe?

Também os reis tinham coisas que desconheciam.

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R disse...

Range-o-dente; o Sol sempre queimou, quando uma pessoa se expõe demasiado tempo.

Não acho natural que em detrimento de uma "conjuntura" se critique a ESTRUTURA. Acaba por ser precisamente aquilo que o "Iluminismo" legou à esquerda unida. A célebre hipócrisia.
Não defendo "job for the boys" e não estou a desculpar. Parece-me sim, descabido, meia dúzia de patacos extremistas atacarem precisamemte agora o que todos sabem; o SOL QUEIMA.

Essa é a mesma linha socialista que construíu o regime. Todos sabem mas às vezes fala-se.

RioDoiro disse...

Mancha Negra:

"o Sol sempre queimou, quando uma pessoa se expõe demasiado tempo."

Pois. O caro insiste em afirmar que a intensidade do fenómeno não tem variado. Usa o Sol como alavanca para tentar afirmar o contrário daquilo que afirmou.

"Não acho natural que em detrimento de uma "conjuntura" se critique a ESTRUTURA."

Você achará normal aquilo que quiser, mas poderia ter dito que não achava normal que por causa da conjuntura tudo se permita à estrutura. O mesmo mecanismo que em relação ao Sol.

De escapadela em escapadela, o helicóptero tornará o salto à vara obsoleto.

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Paulo Porto disse...

Caro MN

"Não acho natural que em detrimento de uma "conjuntura" se critique a ESTRUTURA"

É aqui que, como é óbvio, discordamos absolutamente. As coisas são precisamente ao contrário. O problema é estrutural e a conjuntura tem as costas largar.

Acontece que de há meia dúzia de anos começou a blogesfera, e com ela foi furada a estrutura comunicacional do regime.

Quanto ao mais, estamos pior que nunca no que respeita ao aprveitamento que uma certa Corja faz da democracia.

R disse...

Não entendi nada do primeiro parágrafo do que escreveu Paulo Porto.

Entendi isto; "Quanto ao mais, estamos pior que nunca no que respeita ao aprveitamento que uma certa Corja faz da democracia."

Desde que me lembro o grosso da dita classe média vive (e viveu) do alto/médio/baixo funcionalismo. Não me admira que os de "sangue azul" pulem de um lado para o outro. Admira-me como a comunicação social abocanha estes maus agoiros sobre PESSOAS e não sistema. Nunca li nada na imprensa (de forma substancial) que refira os tectos salariais que se estão a criar. As portas que se fecham na subida profissional e a ortodoxia porreirovksy que mina as relações entre patronato e amigos de amigos. A comunicação social faz chalaça e alvo pessoas e não o sistema. Pelo outro lado, o coro hipócrita do regime aplaude e lança fruta podre a quem aproveita a benesse do regime.